sábado, 28 de junho de 2008

A Batalha


Segue agora noutros lugares...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O Barco Vai de Saída


O barco vai de saída
Adeus ó cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P´ra lá da loucura
P´ra lá do Equador

Ah! mas que ingrata ventura bem me posso queixar
Da pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida

Sem contar essa história escondida
Por servir de criado a essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado
Foi pecado
E foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa

Gingão de roda batida
Corsário sem cruzado
Ao som do baile mandado
Em terras de pimenta e maravilha
Com sonhos de prata e fantasia
Com sonhos da cor do arco-íris
Desvairas se os vires
Desvairas magia

Já tenho a vela enfunada
Marrano sem vergonha
Judeu sem coisa sem fronha
Vou de viagem ai que largada
Só vejo cores ai que alegria
Só vejo piratas e tesouros
São pratas são ouros
São noites são dias

Vou no espantoso trono das águas
Vou no tremendo assopro dos ventos
Vou por cima dos meus pensamentos
Arrepia
Arrepia
E arrepia sim senhor
Que vida boa era a de lisboa

O mar das águas ardendo
O delírio dos céus
A fúria do barlavento
Arreia a vela e vai marujo ao leme
Vira o barco e cai marujo ao mar
Vira o barco na curva da morte
Olha a minha sorte
Olha o meu azar

E depois do barco virado
Grandes urros e gritos
Na salvação dos aflitos
Esfola, mata, agarra
Ai quem me ajuda
Reza, implora, escapa
Ai que pagode
Reza tremem heróis e eunucos
São mouros são turcos
São mouros acode

Aquilo é uma tempestade medonha
Aquilo vai p´ra lá do que é eterno
Aquilo era o retrato do inferno
Vai ao fundo
Vai ao fundo
E vai ao fundo sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa.


Fausto

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Madrugadas


Existem noites em que nos sentimos como anjos caídos no Inferno, perdidos em bares obscuros, imersos em nuvens de fumo de cigarro, engana-se a solidão com substâncias ilusórias e perde-se tempo com parceiras de ocasião. Ao longe, uma música dos Tindersticks ecoa como pano de fundo...

sábado, 14 de junho de 2008

O Império dos Pardais


Depois de ter escrito a biografia do rei D. Manuel I, o historiador João Paulo Oliveira e Costa acaba de fazer um livro em tudo diferente. Chama-se O Império dos Pardais é uma edição Círculo de Leitores e faz do Rossio o palco privilegiado para as personagens se misturarem, se envolverem e se defrontarem. Este Rossio que ainda hoje continua a fervilhar de gente das mais desvairadas caras, raças, cores, credos e nomes.
Hoje, como no tempo do romance, os pardais continuam a aproveitar os bocadinhos de pão que sobejam da luta entre as gaivotas e os pombos. No romance as potências da Europa são a França, o Império Alemão e a Inglaterra. Como hoje, afinal.
Para além das descrições vivíssimas da zona portuária do Tejo, para além da importância decisiva da Irmandade de Moura, o grupo dos amigos do então duque de Beja, para além das peripécias dos serviços de espionagem e de contra-informação, a mim fascinou-me em particular a morte de um marinheiro, «mestre» Felício, em Beja. O rei D. Manuel I visita-o no leito de morte para garantir que está ali por gratidão e respeito para lhe agradecer as viagens de exploração pelo oceano que não foram registadas pelos cronistas nem tiveram direito a diário de bordo.

Na história continua a haver tempos nebulosos e personagens difíceis que nunca vão sair dos subterrâneos do esquecimento. São pessoas que deram tudo por uma causa mas não foi conveniente divulgar os seus nomes, os seus trabalhos e os seus dias.
Este livro deixa-me reconciliado com uma certa ideia de Portugal. E não falta um estrangeiro (um dinamarquês) para nos dizer lucidamente aquilo que nós não somos capazes de descobrir. Até nesse pormenor este é um livro profundamente português.
Um belo livro que termina como começou - no Rossio, entre pardais, pombos e gaivotas, uma metáfora feliz para falar dos países e das pessoas, suas ambições e seus limites, seus sonhos e suas derrotas.

Mitologia Nórdica Revisitada


A mais recente longa-metragem do realizador Robert Zemeckis, vencedor do Oscar por Forrest Gump, faz uma revolução tecnológica no cinema. A técnica é a mesma usada por Zemeckis no seu trabalho anterior, Expresso Polar, de 2004. Na chamada captura de performances, os actores usam roupas aderentes cheias de sensores que criam modelos, cujas expressões são combinadas com a animação digital.
O resultado é algo entre a animação e acção com actores reais, mas a novidade é que esses três anos desde o lançamento de Expresso Polar fizeram muito bem à técnica, que finalmente revela todo o seu poder.

Um elenco de primeira –- com Anthony Hopkins, Angelina Jolie, John Malkovich e Ray Winstone no papel principal - garante a qualidade e completa a diversão.
Mas não é apenas a tecnologia que faz de A Lenda de Beowulf uma experiência imperdível; o roteiro é um espectáculo à parte. A história gira em torno do mito de Beowulf, uma das lendas mais antigas da língua inglesa, que demorou dez anos para ser adaptada a quatro mãos pelo astro da BD Neil Gaiman e o co-roteirista de Pulp Fiction, Roger Avary, parceiro de Tarantino.
Na trama, o reino do monarca Hrothgar é destruído por um monstro devorador de homens chamado Grendel. O guerreiro viking Beowulf desembarca no reino com a missão de eliminar a fera e tranformar-se num herói. Sua promessa é cumprida, e o guerreiro assume o trono em troca de seu acto de coragem. Mas, como todo herói, Beowulf tem um ponto fraco, e um segredo do passado pode ameaçar seu futuro e o de seu povo.
A dificuldade de adaptar a lenda está no fato de que a história original foi contada apenas na forma oral por bardos há cerca de mil anos e registada séculos depois por monges como um poema. O mito foi redescoberto por ninguém menos que J.R.R. Tolkien, e há quem diga que foi uma influência fundamental para que o autor escrevesse sua saga O Senhor dos Aneis.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Manjericos & Sardinha Assada


Hoje a minha bela cidade natal, veste-se de gala para celebrar o Santo António, seu santo padroeiro. A rivalidade dos bairros agudiza-se no desfile das marchas populares e as ruas enchem-se de povo para uma noite de farra. Em todos os recantos se avistam os incontornáveis manjericos e sente-se o aroma das sardinhas a assar na brasa.
Pois que se celebre a tradição com alegria e sinta-se vaidade em ser lisboeta. Por aqui, festeja-se o dia dos namorados em devoção a esse santo casamenteiro.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Dia de Portugal, Camões e das Comunidades


A minha paixão não é pelo Portugal dos portugueses. Importa-me a reinvenção da Pátria, porque o país corpóreo nem por um instante me atrai.
Fazer reviver no povo português a alma lusitana é o meu sonho, porque tal coisa é essencial para que Portugal viva, entre outros países, uma vida própria e bela, independente,portanto. Mas não se imagine que a reinvenção significa simples regresso ao passado. Esse renascimento, consiste em retirar das fontes originárias da vida, uma nova vida.
As nações de pequena dimensão só se podem opor às tendências absorventes das grandes nações, como defesa da sua independência, o carácter, a originalidade do seu espírito activo e criador, a autonomia moral.
Ora, a nossa Pátria possui felizmente essas qualidades que se ergueram, outrora, ao longo das nossas fronteiras talhadas a golpes de espada, e se espalharam depois através dos mares e terras longínquas. O que é urgente é ressuscitá-las, para que adquiram a actividade perdida. E despertas que sejam essas nossas qualidades, Portugal dará, pela segunda vez, alguma coisa de novo à civilização europeia.

"Porque puderam romper os Portugueses os claustros impenetráveis do oceano, e conquistaram nas outras três partes do mundo, sendo um Reino tão pequeno, tantas, tão novas e tão poderosas nações, senão porque estava escrito? Porque, estando sujeitos a Castela e debaixo dos seus presídios, sacudiram tão feliz e animosamente o jugo, e em um dia restauraram sua liberdade, em Portugal, na África, na Ásia e na América, senão porque estava escrito?"
Padre António Vieira in História do Futuro - Esperanças de Portugal e Quinto Império do Mundo

Relembro ainda neste dia festivo, que faz precisamente dois anos que se deu início a uma cruzada de direita monárquica, nacionalista e atlântica na blogosfera, da qual fiz parte com muito gosto. Infelizmente, o Condado foi sol de pouca dura...

GRITEMOS BEM ALTO O NOSSO ORGULHO DE SERMOS PORTUGUESES!!!

domingo, 8 de junho de 2008

Bugiada de Sobrado


Todos os anos, a 24 de Junho, o povo acorre ao Sobrado, uma pequena freguesia do concelho de Valongo - distrito do Porto-, para assistir à Bugiada, o mais louco dos combates entre o Bem e o Mal. É um ritual único, que celebra um milagre de São João, encenado segundo regras definidas por uma lenda antiga.

Os mouros tinham uma povoação nas serras agrestes de Cuca Macuca, de cujas entranhas retiravam o sustento: pepitas de ouro. Os seus vizinhos eram gente simples, cristãos que viviam da agricultura e da pastorícia nos vales férteis de Pias e Couce. Estes, devotos de São João, a quem suplicavam favores em momentos de aflição, viam nos infiéis das serranias uma ameaça constante. Porém, a confiança no santo não tinha limites; com a sua fama de milagreiro, não deixaria mal sem remédio.
Quis um dia que a filha do rei mouro fosse acometida de doença desconhecida dos sábios. Já sem qualquer esperança, mas sabedor das proezas de S. João, o rei suplicou aos cristãos o empréstimo da imagem do santo, negado várias vezes. Por fim, o seu desespero despertou uma piedade colectiva, e lá foi o santo para terras infiéis, incumbido de arrancar a jovem princesa às sinistras garras do demo. Transbordando de felicidade, mandou então o rei mouro um mensageiro, convidando os seus benfeitores para um banquete de graças.

Uma armadilha bem montada, era o que era! Foram os cristãos enganados, ridicularizados (serviram-lhes apenas os restos) e roubados, ficando sem santo e sem rei, ambos feitos prisioneiros pelos mouros. De imediato planeiam vingança, o povo envergando trajes muito garridos, máscaras de semblantes horríveis, empunhando castanholas e guizos, a contar com as fortes superstições do inimigo. E foi assim que uma multidão irrompeu, de surpresa, na aldeia mourisca, berrando e pulando, munida de uma enorme serpente de madeira. Perplexos, os inimigos não ofereceram resistência. Resgatados o rei e o santo milagreiro, tudo voltou à normalidade nas terras dos cristãos.
Esta é a lenda, antiquíssima, que as gentes de Sobrado dizem estar na origem da Bugiada, uma festa inigualável em cor e movimento, única no nosso país, e que atrai anualmente, no dia 24 de Junho, milhares de forasteiros. Uma das recordações mais vivas que tenho da terra natal do meu pai.