sábado, 5 de maio de 2007

O Nordeste português

Pestana Beach Resort - Natal/RN

"Com 2,2 bilhões de reais em investimentos em grandes cadeias de hotéis e resorts, os portugueses dominam o mercado e estão transformando a região em um dos mais atraentes destinos do mundo

Até poucos anos atrás, a bela enseada da praia de Engenhoca, no litoral baiano, era conhecida apenas por poucos surfistas que percorriam a pé uma trilha de 15 quilômetros em meio à Mata Atlântica em busca de suas ondas. Localizada na Costa do Cacau, próxima à região de Ilhéus, a praia se tornou, nos últimos três anos, assunto de prestigiadas publicações internacionais, como a revista dominical do The New York Times, a revista inglesa Wallpaper e a Robb Report, bíblia do consumo de luxo dos milionários americanos. Tudo por causa do ousado empreendimento português Warapuru (em tupi, lobo comendo fruta), um sofisticado resort com projeto assinado por Anouska Hempel, uma das mais famosas designers de hotéis da Inglaterra. Tanto pelo requinte e mordomia -- serão sete atendentes por hóspede -- quanto pela construção minimalista que o torna quase invisível em meio à vegetação local, o resort tem sido descrito como cenário ideal para um refúgio de James Bond. A diária, claro, também é diretamente proporcional ao conforto: ficará em torno de 600 dólares (pouco mais de 1 200 reais).

Estimado em 80 milhões de reais, o investimento feito pelo empresário português João Vaz Guedes e seus três sócios é apenas um exemplo -- sofisticadíssimo, por sinal -- de como os empreendimentos portugueses estão mudando o perfil do turismo na região. Hoje, os grupos do país são os que mais investem no Brasil. De acordo com os dados levantados pelo ANUARIO DE TURISMO EXAME, nos próximos três anos, empresas de capital português vão investir cerca de 2,2 bilhões de reais em novos projetos turísticos no Brasil -- quase 100% desses recursos serão aplicados no Nordeste. Na lista dos que mais investem, os portugueses só são seguidos de perto pelos espanhóis, que pretendem aplicar 1,3 bilhão de reais até 2010. "Os portugueses têm sido fundamentais para o desenvolvimento da região", diz Felipe Cavalcante, presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste Brasileiro (Adit).
A chegada desses grandes grupos portugueses (veja quadro para conhecer alguns deles) começou há cinco anos, mas vem se intensificando com rapidez nos últimos dois. Existem algumas razões para isso. A primeira delas é a proximidade -- e não apenas a cultural, da língua e das tradições, mas também a geográfica. Em menos de 6 horas, é possível pegar um vôo em Lisboa e chegar, por exemplo, a Natal, no Rio Grande do Norte. A oferta de vôos hoje é bastante razoável. Existem cerca de 2 500 vôos regulares diretos entre o Nordeste do Brasil e Portugal, enquanto no início da década a maioria dos passageiros precisava fazer conexão em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Por essas e outras razões, o Brasil tem exercido uma forte atração nos turistas portugueses. Cerca de dois terços dos visitantes já vieram, pelo menos, uma outra vez ao Brasil e 98% deles dizem que voltarão. Hoje, eles formam o terceiro maior contingente de turistas que visitam o país, com 358 000 viajantes por ano. Em números absolutos, os portugueses ficam atrás apenas da vizinha Argentina e dos Estados Unidos, que têm uma população 28 vezes maior.

De onde vem o dinheiro
Quem são os principais investidores portugueses:
Banco Privado Português (BPP): Sediado em Lisboa, o banco de investimentos tem quase 2 bilhões de euros de ativos sob sua gestão Tem participação na OHL, que detém concessões de rodovias. Lidera o consórcio responsável pelo Aquiraz Golf & Beach Villas, no Ceará
Grupo Pestana: O maior grupo hoteleiro português possui 23 hotéis e resorts em Portugal e 15 no exterior Tem oito hotéis no Brasil. Vai construir um resort em Porto de Galinhas (PE),num investimento estimado em 210 milhões de reais
Grupo Reta Atlântica: Fundado em 1999, atua nos setores imobiliário, de turismo e lazer na Grande Lisboa e na região do Algarve Está construindo seu primeiro empreendimento no país, um resort em Mata de São João (BA)
Grupo Vila Galé: Tem uma rede de 15 hotéis nas regiões de Porto, Lisboa, Beja, Algarve e Madeira Possui hotéis em Fortaleza, Salvador e na praia de Guarajuba (BA). Estuda a construção de um hotel na praia de Cumbuco (CE)
Somague:A empresa da família Vaz Guedes é a maior construtora de Portugal, com destaque para obras de infra-estrutura Está investindo 80 milhões de reais na construção de um hotel de luxo em Itacaré (BA)

Outra razão que vem atraindo o capital português -- e também o espanhol, o francês, o inglês e até o nórdico -- é a conjuntura do turismo mundial. O Nordeste brasileiro, com praias paradisíacas, tornou-se um destino interessante depois que lugares como Tailândia, Caribe e o estado americano da Flórida passaram por desastres naturais (intempéries como furacões e tsunami). Segundo dados da Infraero, o número de passageiros internacionais que desembarcaram nos estados do Nordeste dobrou em três anos, passando de 500 000, em 2003, para mais de 1 milhão, em 2006. Além disso, a valorização de moedas como o euro e a libra esterlina ante o real torna o Brasil um país de custo muito baixo para esses mercados -- não apenas no preço dos terrenos, mas também na mão-de-obra e na manutenção das operações. "Outra vantagem da região é o fato de os hotéis não precisarem fechar temporariamente devido a mudança de estações", diz o consultor Diogo Canteras, da HVS International, especializada em empreendimentos turísticos.

O Ceará é o estado mais beneficiado pelos investimentos portugueses, por abrigar os empreendimentos mais grandiosos. Um deles é o maior investimento português não só na região, mas em toda a América Latina. Apesar de o Ceará ser hoje o maior destino de investimentos turísticos no Nordeste em valor -- 1,4 bilhão de reais --, a Bahia, com seus 950 quilômetros de litoral, é o estado que abriga o maior número de empreendimentos. No total, são nove hotéis e resorts no litoral baiano, que vão receber mais de 500 milhões de reais de capital português. Isso sem falar em projetos que já saíram do papel. Um exemplo é o Hotel Convento do Carmo, do grupo português Pestana, que transformou um convento tombado pelo Patrimônio Histórico, no bairro do Pelourinho, em Salvador, num pequeno e sofisticado hotel. Primeiro empreendimento sob a bandeira Pousadas de Portugal fora daquele país, o Convento do Carmo, inaugurado em 2005, acomoda os hóspedes em luxuosos apartamentos que um dia já abrigaram os frades carmelitas que viviam na cidade. Outros detalhes do projeto, como a cabine telefônica instalada em um confessionário barroco, fazem do Convento do Carmo um dos hotéis mais charmosos do país. A diária para casal fica em torno de 1 200 dólares.

Uma das características dos empreendimentos portugueses na região é a construção de hotéis em conjunto com condomínios. Esse tipo de construção é destinado ao mercado do turismo de segunda residência, formado por europeus que preferem adquirir um imóvel para passar as férias no país -- com a opção de alugar a residência durante o resto do ano. O interesse dos portugueses por esse nicho é natural, já que, na Europa, Portugal sempre foi um mercado atrativo para ingleses e europeus do norte construírem casas em busca de clima menos frio. Dentre os estados que despertam o interesse dos investidores está o Rio Grande do Norte, cujo mercado imobiliário anda aquecido com a compra de imóveis por estrangeiros, seguido de Alagoas, procurado pelo belo litoral de 270 quilômetros. "O que está acontecendo no mercado de segunda residência no Brasil é apenas um pálido reflexo dessa tendência no resto do mundo", diz o consultor Canteras. A julgar pelo potencial da região, o Nordeste tem tudo para se transformar num dos maiores pólos do turismo mundial -- e o capital português, assim como o de outros países, será fundamental nesse processo."
Artigo de Rodrigo Cavalcanti in
Exame (05/04/2007)

Será que os portugueses estão-se a virar novamente para além-mar? Espero bem que sim e pelos dados aqui apresentados, parece que a coisa está a correr bem. Afinal de contas, a economia nacional também mexe fora do espaço da UE...

9 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Olá! Pelo visto estão sim... E eu querendo ir de vez pra Europa... Vá entender...
Beijo!

Gi disse...

capitão, fingiu que não leu ou não leu mesmo o que eu escrevi no post mais abaixo? Isso é para fugir????

beijinhos noite feliz, amanhã com mais calma volto para te ler. A esta hora estou mesmo de fugida :)

Anónimo disse...

Mas bah Capitao, e eu que nem sabia de tanto taurino especial assim oxi!

Bbel disse...

Natal já é uma cidade mais explorada turisticamente que João Pessoa... Adoro Natal! Acho belíssimo todo o litoral nordestino.
Mas eu estava a pensar acerca do provável-crescente turismo daqui e devo confessar que preferiria que JP continuasse no anonimato, não me agrada o que vem junto com ele. Penso que as desvantagens são bem maiores. Isso é bem egoísta, eu sei.

jocasipe disse...

serão sinais do tempo?!

Maríita disse...

O grupo Pestana está a investir muito no Brasil, mas também em Angola e Moçambique, felizmente, já era altura...um destes dias voltaremos a cantar:

"Já fui ao Brasil, Praia e Bissau, Angola, Moçambique, Goa e Macau, já fui a Timor e lálálá"

Beijos

Prof disse...

Não vou propriamente comentar este post, mas aproveitar para dizer que já li o primeiro episódio e que gostei bastante da ideia de ser outra pessoa a continuar a série (ainda por cima o desafiado é o Lois por quem eu tenho um carinho muito especial). Estou ansiosa por ver a volta que ele vai dar à situação. Desculpa o comentário aparecer aqui, mas à velocidade com que tu postas é-me impossível manter-me actualizada!
Beijinhos!

Moinante disse...

E assim a nossa costa Vicentina continuará intacta ...
Ainda bem ... ou talvez não ... Quiçá .

Uma boa semana . Avizinha-se o fim de Vera e de Chico ...

Sandra Neves disse...

Espero éque não façam ai as muitas maravilhas de betão a estragar as nossas belas costas... como os entendidos e grandes investidores tanto gostam de fazer em terras lusas.