quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Chaimite


A população de Lourenço Marques, em 1894, sob os frequentes ataques das hordas vátuas. Projectos iniciais de Campanha Africana, por António Enes e seus colaboradores. As façanhas de Caldas Xavier, Ayres Ornelas, Eduardo Costa, Paiva Couceiro, Freire de Andrade e, mais tarde, Galhardo, Mouzinho de Albuquerque, para libertarem Moçambique. Grandes jornadas de guerra: Marracuene, Magul, Coolela, incêndio de Manjacaze. Chaimite (rapto de Gungunhana), Macontene... Paralelamente, o amor de dois soldados pela mesma rapariga.

Considerada, pelo Estado Novo, como uma obra de ficção exemplar, na exaltação da gesta colonial. Em 1953, foram-lhe atribuídos pelo SNI o Grande Prémio e o Prémio ao Melhor Actor - Emílio Correia (pelo desempenho em "Chaimite e em "Planície Heróica, de Perdigão Queiroga.
Jorge Brum do Canto domina todos os sectores do filme, indo até ao ponto de interpretar a personagem de Paiva Couceiro, de modo a ajustar-se ao seu perfil lendário.
Talvez um pouco longo, Chaimite tem o ritmo e a força visual que o realizador sabe imprimir às suas imagens, nomeadamente nas cenas de evocação dos combates, tratados num clima de heroísmo e vibração patriótica. O filme, de resto, como "O Feitiço do Império", sugere o esforço português para defender o ultramar da cobiça estrangeira. Mais do que um filme contra o desejo de libertação encarnado por Gungunhana e pela revolta vátua, é um filme denunciador do imperialismo inglês, que pretende revoltar o povo moçambicano contra Portugal para o sujeitar ao seu domínio.

Após O Feitiço do Império, é o segundo grande filme colonial português, mas ninguém se pareceu comover muito com tal fervor patriótico e o único interesse da obra é servir para o estudo da propaganda colonialista do Estado Novo, sobretudo na exemplar sequência que opõe o herói de Chaimite (e do filme), Mouzinho de Albuquerque, ao régulo negro Gungunhana, que ele próprio trouxe cativo para Lisboa em 1897 em gesto delirantemente saudado pelo povo da capital que nele viu a nossa "desforra" face ao humilhante ultimatum inglês.
Estreou no Monumental, em Lisboa, em 4 de Abril de 1953. Tendo em conta o elevadíssimo custo de produção, teve uma carreira que não favoreceu a produtora(Cinal), falida pouco tempo depois.

6 comentários:

Paula Crespo disse...

Dado o adiantado da hora, passei a correr. Detesto isso e prometo voltar, com vagar para leituras mais dedicadas.
Aproveito para dizer que te reservei uma pequena surpresa no meu espaço...

Gi disse...

Para o SNI ((Secretaria Nacional de Informação - mais tarde acrescentaram-lhe o turismo ) lhe ter dado um prémio só mesmo porque exaltava o patriotismo e o heroísmo ... afinal convinha mostrar que os portugueses só estavam no Ultramar para defender o que era tão cobiçado pelos estrangeiros ! Por ali o lápis azul da censura estava sempre atento. Enfim !

Beijinhos

AnadoCastelo disse...

Este filme estreou nem um mês eu tinha. E subscrevo o que dissa a Gi.
Bjs

Anónimo disse...

gostei do conteúdo de seu blog, proponho o intercâmbio de link, que tal?
espero resposta em meu blog...

Rubi disse...

As coisas que tu descobres. Deve ser influência da formação na Escola Superior Colonial...Penso que sabes que ESC=ISCSP...

Jokas

O Réprobo disse...

Gostaria de opor à Gi e à Ana o facto de que a Comissão de Censura e o SNI eram entidades distintas e que se detestavam. Além de que a Censura não foi instituóda pelo Estado novo, vinha da Primeira República.
Quanto ao Gungunhana, note-se que ele traiu os acordos internacionais assinados pela embaixada Vátua que foi recebida triunfalmente em Lisboa. Precisamente um dos crimes de que eram acusados os Chefes Nazis em Nuremberga... Com os nossos brandos costumes não o enforcámos, mandámo-lo com alguns auxiliares para um exílio tranquilo nas Ilhas; e até o recebemos no Catolicismo, quando ele o pediu.
Abraço, beijinhos às Senhoras e b.f.s.