segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Colonos & Arruaceiros

Obviamente que notícias como as que são descritas no post acima, não podem agradar a todos, sobretudo numa região que nunca fez parte das tradicionais rotas de imigração para o Brasil e onde uns poucos previlegiados acreditavam ser donos e senhores destas terras. Ontem, ao folhear a edição de domingo da Tribuna do Norte, deparo-me com um trecho da coluna de Eliana Lima que me deixou incomodado pelos seus contornos xenófobos.

Um...
Um apaixonado por estas terras potiguares desabafa em torno das tantas grandiosidades anunciadas para o ‘desenvolvimento’ do Estado: - Não sou contra esses mega-empreendimentos que priorizam turismo de segunda residência para europeus; mas o que isso realmente significa?
Significa que estamos vendendo barato pedaços significativos do território brasileiro, que se tornarão enclaves de outros países aqui dentro. Ou você acha que brasileiros poderão circular livremente por esses condomínios? Só se for puxando carrinhos com tacos de golfe....

...Desabafo...

“Adicionalmente estaremos importanto uma população que não interessa mais aos seus países de origem: idosos para os resorts de praia e arruaceiros desqualificados em busca de sexo-turismo para os flats da capital. O Estado e os municípios terão que abrir seus rotos cofres e pagar por toda a infraestrutura que esses empreendimentos vão demandar: estradas, energia elétrica, esgotamento hidrossanitário, coleta e tratamento de resíduos sólidos e efluentes, segurança pública, hospitais, escolas e tudo o mais”.

...Pelo RN

“Na minha opinião, quem tem que pagar por tudo isso são os empreendedores! Porém, uma viagenzinha para a Espanha aqui, um jantarzinho com Antoniosbanderasdavida acolá, com as pessoas certas, e está tudo resolvido: somos nós, os pobres brasileiros, que vamos pagar por todo o bem-estar desses “excluídos”, que só dão prejuízo a seus países de origem”.
É isso!!!


Numa primeira análise, sou levado a acreditar que esse tal "apaixonado" pelas terras potiguares, é um forte adepto das teorias da conspiração. Ele deve imaginar que todos os europeus que chegam por aqui, serão malévolos agentes secretos que ameaçam a soberania da nação brasileira.
Quanto ao resto, devo informar a este iluminado, caso ele ainda não se tenha apercebido, que vivemos numa sociedade globalizada e que o sistema capitalista e a propriedade privada imperam no mundo ocidental. Eu pelo menos, nunca encarei diversos resorts do Algarve, predominantemente frequentados por britânicos e alemães, como ameaças e também não acredito que os espanhóis estejam a planear a irradicação dos alemães em Palma de Maiorca.
Mais uma vez, fico indignado com esta teoria de que os estrangeiros são fonte de grande parte dos problemas do Rio Grande do Norte. Bons e maus exemplos existem em qualquer local do planeta, mas o que se torna errado é tomarem as más referências como base de catalogação de pessoas. Ou serão todos os brasileiros residentes no exterior, exemplos veneráveis de honestidade, moral e bons costumes?
Não me acusa a consciência de nada. O que tenho é meu, foi fruto do meu trabalho e nunca roubei nada a ninguém. Até mesmo as mulheres que se cruzaram aqui na minha vida, estiveram comigo de livre e espontânea vontade e não porque lhes efectuei qualquer tipo de pagamento.
Tomem mais atenção com problemas de pontes superfacturadas, com políticos que desviam verbas de merendas escolares, a ineficiência dos serviços públicos ou compras de votos e só depois se lembrem dos incómodos que os estrangeiros vos possam causar. Estrangeiros esses, que continuam a injectar capital na região, a criar postos de trabalho, a fazer boa parte da promoção turística de Natal além-fronteiras e que também acolhem milhares de cidadãos brasileiros nos seus países de origem.
Por outro lado, entendo que este tipo de opiniões seja proveniente dos retrógados coronelistas nordestinos, que ainda encaram os ventos de mudança como ameaça ao seu status quo. A resistência ao cosmopolitismo e à mudança de mentalidades ainda persiste numa terra onde os compadrios falam mais alto.
Para concluir e não me querendo alongar em temáticas desagradáveis, gostaria de saber em que categoria de estrangeiros, a D.Eliana me enquadraria. Não sendo idoso, parece que serei catalogado de arruaceiro pervertido que não interessa mais ao seu país de origem...

9 comentários:

O Réprobo disse...

Os vampiros do ressentimento popular claro que gostariam de classificar assim um caçador dos congéneres...
O mais engraçado é imaginar turistas a fazerem enclaves. Sei que podem ser muito irritantes, mas a busca da fruição do típico, o cansaço que revelam dos seus países, retribuído, de resto, é o contrário do terreno favorável ao alargamento territorial estrangeiro.
Abraço, Caro Capitão-Mor

Mad disse...

Capitão, mais uma vez me curvo até ao chão em reverência ao teu cérebro e verves superiores (muito mal empregues em território brasileiro, diga-se de passagem, segundo a provável opinião deste iluminado...). Eu, que não consigo falar sem o coração e que não tenho esta retórica brilhante, só posso dizer, como é meu costume... F******** Assholes!

Mad disse...

E este energúmeno acha sinceramente que trazer divisas para o país, comprar terra, construir, gerar renda e emprego em regiões que muitas vezes não dispõem de quaisquer alternativas para populações mal ou nada qualificadas (aliviando assim o tomado por infinito bolso do Papai Lula) e ainda atrair uma população idosa e disposta a pagar impostos no Brasil em troca do visto de residência, é MAU???

Marcos Pinho de Escobar disse...

"Tomem mais atenção com problemas de pontes superfacturadas, com políticos que desviam verbas de merendas escolares, a ineficiência dos serviços públicos ou compras de votos [...]"

Na mosca, Caro C-M. Primeiro façam o dever de casa e deixem de criticar quem aí investe.

Um abraço

Evelyne Furtado. disse...

As opiniões se dividem, Capitão. A jornalista Eliana Lima não fala em nome de todos os norte-rio-grandenses. Da mesma forma existem dois tipos de investidores estrangeiros, vc citou os noruegueses que lavavam dinheiro.Mas sabemos que existem tambémos bons investidores.
Quanto ao senhor Capitão-Mór, não se preocupe, se valer de alguma coisa, atesto que você não é´um "arruaceiro" (risos) e o aconselho a não prestar atenção àqueles que não o acolhem bem.
Muito boa sua reflexão, mas não nos ponha todos no mesmo saco.
Um abraço.

Ana Garcia disse...

Lá está... fala a voz da ignorância.
É a mesma coisa do dono do bar onde vou aqui em PT. Odeia brasileiros, diz que eles nao gostam de trabalhar. Mas só contrata brasileiros. Onde estão os portugueses que querem trabalhar então?
Essa D. Eliana é o exemplo típico da estupidez do século XXI. Que acha que os estrangeiros na sua terra vão destruir tudo. O mesmo pensam os tugas aqui. Quer saber uma coisa, D. Eliana? Não somos nós estrangeiros, que damos cabo do Brasil. O que dá cabo do Brasil é a merda dos políticos que vcs elegem e reelegem. O que estraga o Brasil é a vossa polícia corrupta, que vende armas aos traficantes. O que estraga o Brasil, e o que infelizmente estraga Portugal tb, é o pensamento de grande parte do povo. Se a maioria se deixasse de carnavais e pensasse mais em lutar por um país melhor, talvez isso não estivesse assim.
E vou morar para o Brasil mesmo, D. Eliana. Isso se vc me permitir, claro.

ana v. disse...

Pois é, Capitão. Enquanto os de fora forem vistos assim (infelizmente, é assim em muitos países) com todo esse ressentimento, não vejo grandes hipóteses de evolução para a humanidade. Nem para a economia de países como o Brasil, onde há lugar para todos, os "de lá" e os "de fora". Ridículo e perigoso, o raciocínio dessa Eliana Lima.

Um beijo
Ana

AnadoCastelo disse...

Estou cem por cento de acordo contigo. Só que esquecem que o turista estrangeiro quando aí chega, ou pouco ou muito, gasta, faz compras, assim como o emigrante, que aí é imigrante, para se estabelecer ou mesmo só residir também paga, ou será que a senhora julga que quando aí chegamos vivemos à custa do brasileiro? Que eu saiba ainda ninguém lhe foi bater à porta a pedir dinheiro para comprar casa, ou fazer as compras do mês. E segundo se eu não estou enganada, aí também se pagam impostos com a compra de casa. Ou então também já se esqueceram que foram os portugueses que com o seu trabalho, e desde a descoberta do Brasil, que ajudaram à economia brasileira, independentemente do país actualmente ser ou não bem governado.
O mais engraçado é que a jornalista que focas até tem sobrenome português, Lima, se ela procurar ben a sua árvore geneológica até é descente de portugueses. E mais não digo.
Bjs

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

é realmente escabroso,esse artigo...Há brasileiros que têm ódio irracional contra os estrangeiros.

E os comentadores anteriores já disseram tudo,Capitão.
bjo