quarta-feira, 2 de abril de 2008

Blogsérie: Barreira do Inferno - Episódio 1


Cláudia já saía o seu namorado Álvaro havia alguns meses. Ela tinha uma escova de dentes no apartamento dele, mas não as chaves de casa. Álvaro Trigo é português e após algumas dificuldades nos primeiros anos, conseguira vencer naquela cidade do nordeste brasileiro. Portugal ficara para trás há sete anos e ele prosperara com a abertura da mais badalada casa nocturna da cidade, frequentada pelos filhos da elite local. Progressivamente, foi ficando influente e conhecido de todos. De facto, mal se podia olhar para as patéticas colunas sociais da região, sem ver o seu rosto estampado na companhia de outros empresários e alguns políticos.
O que ele estava a fazer com ela era um pouco incerto. Ela era cerca de doze anos mais nova que Álvaro e completamente desconhecida. Porém, trabalhava em publicidade, facto que o deixava curioso e entendiam-se muito bem. Apesar de ele deixar claro que não queria - e não iria - comprometer-se. Era divertido, culto e charmoso. Ela tinha vinte e cinco anos e estava aberta a qualquer coisa.

Naquela noite, Cláudia ficara de se encontrar com Álvaro na sua boate na Praia dos Artistas. Este era o único pormenor de que ela não gostava na relação. Apesar de ele não ficar até muito tarde, era um local pouco propício para conversas e eram constantemente interrompidos por desconhecidos que insistiam em cumprimentá-lo ou grupos de patricinhas que se exibiam para ele.
No entanto, naquela noite, Álvaro dedicava um pouco mais de atenção á sua parceira. Bebiam champagne numa área mais reservada e ele acariciava-lhe com delicadeza as costas, evidenciadas por um sensual decote no vestido preto. Eles contemplavam as pessoas que dançavam freneticamente na pista, localizada no piso inferior. Álvaro pergunta-lhe o que pretendia fazer mais tarde.
- Bem, nós poderíamos contratar uma prostituta - diz Cláudia, querendo excitá-lo.
Eles já vinham conversando sobre isso há semanas. Ela confessara que gostaria de sair com uma mulher e ele disse que sempre quisera estar com duas. Eles não eram diferentes de ninguém em nada. Para homens e mulheres, o ménage a trois é como o Monte Everest da sexualidade - muitos gostariam de testá-lo e, se não querem, querem saber como funciona. É sexy? É algo excessivo?

Cláudia também estava interessada por outras razões. Álvaro afirmava que não conseguia ser fiel e ela imaginava que se eles traíssem o seu relacionamento juntos não seria realmente uma traição. Ela nunca tinha pensado que um dia contrataria uma prostituta, mas isso permitia-lhes evitar solicitações constrangedoras junto de amigos comuns. Contudo, ela tinha perfeita noção que este tipo de fantasias funciona em espiral crescente e provavelmente as coisas não ficariam por ali.
Como era de se imaginar, Álvaro ficou tentado com a sugestão.
- Não é uma má ideia - disse, com um sorriso malicioso.
Apesar de ela não estar muito segura se estava disposta a fazer o que havia sugerido, ele estava tão empolgado que já era tarde demais para mudar de ideias. Após saírem da boate, aceleraram rumo ao apartamento dele no Tirol, onde começou a buscar acompanhantes pela internet enquanto Cláudia procurava nos classificados dos jornais. No final de uma das páginas, ela achou um anúncio de acompanhantes de luxo. Ele ligou de imediato e pediu uma loira " com muita experiência com mulheres". O preço era 500 reais por hora.
- Nossa! O aluguel do apartamento que divido com minha amiga são 500 reais - murmura Cláudia entredentes.
Álvaro passou as informações do cartão de crédito e o seu nome verdadeiro para a pessoa que estava do outro lado da linha. Cláudia ficou incrédula. Ele era uma pessoa conhecida, aquele sotaque era inconfundível mas agia imprudentemente numa cidade conservadora, onde os estrangeiros residentes eram desaprovados com facilidade. Mas Álvaro não se importava. Era como se estivesse a pedir uma pizza por telefone. A mulher na outra ponta diz qualquer coisa. Álvaro sorri, desviando o olhar para a sua namorada.
- Fico feliz por saber que sou tão popular - disse Álvaro para a agente das acompanhantes.
Cláudia questionava se a mulher iria espalhar a história para algum colunista social, mas guardou o pensamento para si mesma.

Tinha chegado a hora de se prepararem. Foram para o chuveiro; parecia o mais educado a fazer. Cláudia desejava ter colocado uma lingerie mais provocante. Vestiram roupões. O duche tinha diminuído o efeito da bebida, o que não era necessariamente bom. Álvaro acende um cigarro e penteia os cabelos com os dedos. Ele abre uma garrafa de vinho do Porto e coloca um CD de Massive Attack na aparelhagem sonora. Cláudia aproveita para diminuir a luminosidade da sala.
Subitamente, o porteiro interfona para anunciar a chegada da visitante. Cláudia ainda pensou que teria sido mais sensato fazer este programa num motel, ao invés de receberem uma prostituta em casa. Era uma exposição de intimidade bastante arriscada. Ouve-se uma leve batida na porta. Cláudia sente o sangue congelar nas veias, enquanto Álvaro deixava a loira oxigenada entrar. Ela aparentava ter perto de trinta anos e ostentava um olhar felino. Tinha seios volumosos e Cláudia era mais bonita. "Óptimo" - pensou ela para com os seus botões.
Ofereceram uma bebida para ela e conversaram durante breves minutos, sentados nos sofás da sala. Logo depois, dirigiram-se para o quarto onde Álvaro havia acendido algumas velas.

A coisa aconteceu da maneira que se imagina que deve ser. Ele diz para a prostituta que Cláudia nunca tinha estado com uma mulher e pede que ela beije a sua parceira.
- Quero ver - sibila ele.
È curioso pensar que os diálogos dos filmes pornográficos são estúpidos e, depois, lá estamos nós num filme para adultos na vida real a dizer as mesmas idiotices.
Uma hora depois, a loira levanta-se da cama e sai. Charlie Sheen sabia o que falava quando disse que não paga a uma prostituta apenas pelo sexo, mas também para que ela se vá embora. Cláudia já tinha ouvido ópera em Milão, os sinos das igrejas parisienses ao amanhecer, mas o som mais doce que escutara foi daquela porta a bater, atrás daquela mulher.
Na manhã seguinte, Álvaro levantou-se cedo porque ia ter uma reunião importante com o gerente do banco. Cláudia observava-o da cama e pensava se a loira iria perceber quem ele era e aproveitar-se da situação.
Quando chegou à agência, um colega do departamento criativo perguntou-lhe como tinha sido o serão.
- Legal - diz ela, esboçando um leve sorriso.
Foi legal. E ainda estava tudo no início...

Continua na próxima semana na Jeca Urbana

8 comentários:

Evelyne Furtado. disse...

Ousada essa Barreira do Inferno, hem, Capitão?

AnadoCastelo disse...

Ai, ai isto promete.
Bjs

Zé Povinho disse...

Vamos ver o que sai daqui, mas cheira-me a confusão.
Abraço do Zé

Paula Crespo disse...

Imaginativa esta blogosérie...

Maríita disse...

É engraçado ler esta blogosfera, lembra-me algo familiar, mas não sei exactamente o quê.

Fico a aguardar ansiosamente a continuação da Tati.

Carla disse...

ui o ambiente está a aquecer...ansiosa à espera da continuação
bom fim de semana
bjs

Tati disse...

o som da porta a bater foi doce, não? mas será sempre assim?.....
rsrs
tem texto novo na jeca, já...
beijo

Gi disse...

o desejo de agradar leva as pessoas a fazerem coisas que mais tarde se arrependem . esse "alívio" com o bater da porta traduz bem isso. Como cheguei atrasada agora vou ver já de seguida a 2º parte. Em que encrencas é que o casal se vai meter

beijinhos