quarta-feira, 16 de abril de 2008
Blogsérie: Barreira do Inferno - Episódio 3
Álvaro acorda um pouco antes do meio-dia. Ainda ensonado, olha para o visor do seu celular pousado na cabeceira. Fica desapontado ao vêr que Cláudia ainda não retornara nenhuma das suas ligações do dia anterior. Nem sequer se dignara a enviar uma simples mensagem de texto. Levanta-se irritado e vai tomar um banho. Logo depois, veste uns calçoes, uma t-shirt e vai para a cozinha, onde prepara um sanduíche e algumas frutas para um almoço improvisado.
Antes de sair para a praia e incapaz de conter a sua ansiedade, volta a ligar para a Cláudia. Após escutar três toques, ela atende com uma voz alegre.
- Oi amor!
- Boa tarde! Cláudia, o que aconteceu ontem? Fartei-me de ligar para você...
- Me desculpe. Acho que fiquei meio confusa com os acontecimentos daquela noite. Mas pode ficar tranquilo...admito que foi uma experiência gostosa.
- Hum...menos mau! Já estava a ficar preocupado. Não queria ter a preocupação de a ter forçado a fazer algo desagradável.
- Não se preocupe. Aliás, temos que pensar em outras fantasias deste tipo... - susurra Cláudia, com voz sensual.
- Está certo - Álvaro sorri. - Aceita jantar aqui em casa? Hoje apetece-me cozinhar para você. Oito horas, pode ser?
- Claro que sim. Temos muitas coisas para conversar...
- Bom...agora vou descer até à praia e depois tenhos uns assuntos a tratar na boate. Até logo. Beijo!
- Beijos, meu amor! Te amo!
Álvaro desce até ao estacionamento, entra no jipe e arranca rumo à Praia do Forte. Esta era uma das coisas que ele mais gostava de fazer. Ao caminhar sozinho eplo areal, aproveitava para relaxar e reflectir sobre alguns assuntos. Naquela tarde, os seus pensamentos fizeram-no viajar para bem longe. Lembrou-se da sua família em Portugal e interrogou-se sobre o que eles pensariam sobre o estilo de vida que adoptara. Álvaro era oriúndo de uma família abastada e tradicional. Tivera uma educação burguesa, católica e conservadora. Era o mais novo de cinco irmãos e desde tenra idade, revelou ter um espírito rebelde e fora dos padrões convencionais.
A sua opção de viver no Brasil nunca foi bem aceite pela família que o censurava constantemente, à excepção de sua mãe Luísa e sua irmã Mafalda, que não eram tão rígidas e até achavam alguma piada á sua irreverência. No campo oposto, estavam o seu pai, Dr. Manuel Trigo e o seu irmão Duarte que durante os últimos anos se dedicara de corpo e alma à vida política, tentando organizar um pequeno partido da extrema direita portuguesa.
Álvaro era o único dos irmãos que ainda não tinha casado e procriado. Os seus irmãos eram totalmente diferentes dele. Seguiram os passos dos pais. Fizeram bons casamentos, possuíam carreiras profissionais bem sucedidas e tiveram filhos bonitos e saudáveis. Ele era uma espécie de ovelha negra que destoava nas belas fotografias de família onde todos pareciam imaculados e perfeitos.
As suas viagens a Portugal tinham-se tornado esparsas. preferia os telefonemas de ocasião no Natal e aniversários. Ainda assim, todos eles estavam longe de imaginar as suas loucas aventuras amorosas. Porém, Álvaro sentia que chegara o momento de estabilizar um pouco e Cláudia tocara o seu coração. As coisas com ela poderiam ser diferentes e talvez tentassem estabelecer um tipo de relacionamento alternativo que fosse satisfatório para ambos.
Numa tentativa de afastar os seu pensamentos, corre na direcção do mar e mergulha naquelas águas mornas. Dá umas fortes braçadas e deixa-se flutuar com o rosto virado para o sol abrasador. Demora-se na praia e por volta das quatro da tarde, volta para o jipe e percorre o curto trajecto até à sua boate. Lá dentro, já se encontrava o Plínio que verificava se tudo estava em ordem para mais uma jornada nocturna. Mal entra no estabelecimento é interpelado por Plínio, o seu homem de confiança.
- Boa tarde, Sr. Álvaro! Tudo bom?
- Oi Plínio! Alguma novidade?
- Por aqui tudo em ordem para hoje à noite. Mas encontrei um envelope para o senhor na entrada. Deve ter sido colocado ontem, mas o senhor não viu...
- O que é? Espero que não seja mais uma conta para eu pagar - graceja Álvaro.
- Não. Acho que é pessoal - Plínio estende-lhe um envelope branco manchado com duas marcas de sapato - Desculpe, mas o envelope estava aberto... - diz Plínio, olhando para o chão com embaraço.
Álvaro olha com seriedade para o seu funcionário e abre o envelope. Engole em seco quando se apercebe do seu conteúdo. Sente o seu rosto ruborizar.
- Ahhh...isto deve ser alguma brincadeira de mau gosto - gagueja, sem conseguir encarar Plínio - Vou para o escritório. Peço que não me interrompam. Entendeu?
Segue em passo acelerado para o seu pequeno gabinete de trabalho nos fundos da boite. Tranca a porta, atira o envelope para cima da mesa e senta-se. Respira fundo e despeja as fotos no tampo da mesa. Seis fotografias. Imagens de má qualidade, provavelmente tiradas com um telefone celular. Mas era inegável que a sua imagem aparecia em todas elas, em diversas posições sexuais e várias parceiras. Umas dessas parceiras, ele conhecia bem. Era a Ana, uma das melhores amigas da sua namorada. Álvaro tivera um pequeno caso com ela, antes de conhecer Cláudia. Curiosamente, a sua actual namorada tinha-lhe sido apresentada através dela. Nunca lhe contaram o sucedido e pior que isso, ainda chegaram a ter dois encontros depois de ele ter assumido o namoro com Cláudia. E uma dessas vezes estava documentada naquelas fotos. Ele lembrava-se bem de a ter acompanhado Ana naquela festa swinger, realizada numa fazenda em Ceará-Mirim, promovida por um conhecido deputado estadual.
Álvaros ente uma súbita dor de cabeça e os seus olhos parecem hipnotizados por aquelas imagens de uma noite louca no início de janeiro.
No verso de uma das fotos, ele vislumbra uma incrição: "Estou com saudades de nossas aventuras. Beijos! Ana"
Ficara estabelecido que a relação dos dois acabaria após aquela orgia. Ele acreditava que Ana não gostaria de magoar uma amiga de infância. Ele nunca sentira nada de especial por ela. Tratou-se de pura atracção sexual. Havia algo naquela mulher que o repelia. Ligeiramente mais velha que Cláudia, era bissexual assumida e tinha uma líbido fora do comum. O mais estranho, eram as suas súbitas variações humor e um espírito auto-destrutivo alimentado pelo uso de cocaína. Por vezes, ele pensava que Ana lhe poderia vir a causar problemas e nunca entendera como a sua namorada confiava tanto nela. Será que Ana lhe conseguia esconder o seu lado obscuro?
Álvaro levanta-se e sente as pernas trémulas. Decide socorrer-se de uma garrafa de whisky irlandês que tinha num armário do escritório. Talvez a bebida o deixasse mais calmo. Seerve-se de uma dose generosa e engole-a de um trago. Senta-se novamente, arruma as fotos no envelope e esconde-as numa gaveta. Nessa mesma gaveta, encontra uma caixa de Valium. Tira um comprimido e toma com outra dose de whisky. A sua cabeça fervilha de inquietação. Passa as mãos pelo rosto e acende um cigarro. Dá uma longa tragada e recosta-se na cadeira, tentando racionalizar os seus pensamentos. Pega no telefone e liga para a Ana.
- Alô? Ana?
- Oiiiii! Como vai o meu amigo português? - responde Ana com ironia.
- Você ficou louca? O que pensa que está a fazer? - Álvaro cospe as palavras com fúria.
- Calma, meu querido! Que stress é esse?
- Decidiu arruinar a minha vida? Você deixa estas fotos no meu local de trabalho, à vista de todos e quer que eu fique calmo?
- Foi uma pequena provocação, meu querido. Você nunca mais ligou para mim, depois que começou namorando aquela sonsa!
- E não foi isso que ficou combinado entre nós? Que raio de amiga é você?
- E que belo namorado você é. Lembra que saiu comigo depois de já estar namorando Cláudia. Você tem muita sorte de eu nunca ter contado nada. As tardes no motel, as festinhas, o seu blogue se sacanagem... - dispara Ana, elevando o tom de voz.
Álvaro fica em silêncio por instantes. Sente-se indefeso, sem qualquer tipo de argumentos.
- O que você pretende de mim? - questiona ele num murmúrio.
- As fotos eram uma brincadeira para o provocar. Queria voltar a sair com você. Mas por ironia do destino, fiquei sabendo de umas coisas e alterei meus planos.
- Como assim?!
- Ontem, sua namoradinha me contou sobre o vosso ménage. Tão púdica, coitada! Admito que Cláudia é um mulherão. Você tem bom gosto, seu safado! - solta uma gargalhada - Agora também quero fazer parte das vossas brincadeiras...
- O quê???
- Isso mesmo que você escutou. Já imaginou? Está na sua mão decidir isso. Não esqueça que eu sei de muita coisa que pode estragar o vosso lindo romance!
- Sua doida varrida! - vocifera Álvaro.
- Até mais, meu querido. Beijo!
- Alô? Alô?
Ana tinha desligado. Álvaro pega novamente no cigarro e fecha os olhos em mais uma tentativa de se acalmar.
Continua na próxima semana na Jeca Urbana
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12 comentários:
É, Capitão, esta série promete!
O duro para os leitores é esperar a semana toda por mais um capítulo, é quase uma provocação!!
parabéns! :-)
Beeemmm, mas que imaginação. Cada vez está melhor. Ai o doloroso é esperar uma semanita.
"O programa segue dentro de momentos".
Abraço
Isto começa a tornar-se interessante e até tem muita "jeca urbana", o que não augura nada de bom para o infeliz, que parece não ter coragem para abrir o jogo.
Cumps
faz o favor d m ligar p contar td o q é pormenor sobre junho!!!!!!beijooooooooooooooooo
Excelente!
Vamos ver o que acontece e como é que a Tati resolve tudo.
Beijocas
aaahhh, eu bem que imaginei q vc adoraria a ana, rsrsrs!!!!!
eba, adoro lição de casa....
bj
a série está de vento em popa!
uiiiii capitão isto está a aquecer e não é só na Praia do Forte...venha o próximo que a curiosidade já está aguçada
bom fim de semana
beijos
humm...1 semana à espera!?
:)
E agora? Estou louca para saber como Àlvaro vai se sair dessa...
Valeu, capitão!
Xiiiiiiiiii
com amigas assim quem precisa de inimigas ?
fico à espera de mais. avisa-me s.f.f., não tenho nadado muito pela blogosfera se não para publicar mas tiro sempre um dia ou dois semanalmente para fazer as visitas aos amigos ... além disso detesto ficar sem saber o final das histórias :)
Um beijinho
Sempre escreveste muito bem.
Esta série, fantástica.
Beijinhos
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