segunda-feira, 7 de abril de 2008

Euroalternativos

Islândia

O Portugal pós-UE tornou-se um lugar estranho para mim. O facto do progresso ter passado ao lado do país é ilustrada pela mistura de eléctricos antigos e bombas de incêndio dos anos 20 com a invasão maciça de automóveis topo de gama. A tardia mas inteiramente merecida oportunidade de actualização, simpaticamente apoiada pelos parceiros europeus, veio aniquilar boa parte das qualidades do Portugal tradicional. Em meados da década de 80, os governantes foram incapazes de conceber um projecto nacional, no sentido de ter um pensamento substancial e estratégico para Portugal. Que país depois do final do Império e na conjectura interna e externa dessa década? Não só que economia, mas que política, que defesa, que aliados, que função, que grandes objectivos? E qual a linguagem mobiliadora? E que valores sociais?
Decidiu-se apostar na adesão europeia como cura para todos os males. Porém, tudo isto foi feito em jogadas de bastidores, longe do debate público e total ausência de referendos. Paralelamente, vários fenómenos culturais foram afectando a sociedade portuguesa de modo nocivo. A cultura tradicional que exaltava, genuinamente, valores comunitários - generosidade, abnegação e solidariedade - substitui-se uma cultura glorificadora de padrões de mediocridade, consumismo, de egoísmo, que tem a sua tradução para as massas, na vulgaridade da produção televisiva "popular".
A pátria portuguesa e o Estado são um valor. Mas entre 1580 e 1640, Portugal, no quadro da união real com Castela, estava subordinado aos interessses globais da monarquia hispânica que lhe sairam caro. Do mesmo modo que em 1974-75, as convulsões político-ideológicas foram pagas com graves prejuízos políticos e económicos, especialmente com uma coisa a que chamram "descolonização exemplar". E actualmente? Será que não estaremos a ser prejudicados por uma entidade supranacional regida por euro-burocratas que não descansaram enquanto não destruíram por completo o nosso frágil aparelho produtivo?
Ilhas Faroé

Os valores, mesmo os políticos, podem, enquanto categorias - a Pátria, a Ordem, a Justiça - transcendem a História.
O importante é que o pensamento português, regressando às grandes linhas e ideiais comunitários, actue com consciência crítica e orientadora das soluções e projectos necessários à Nação.
Não serei um adepto do orgulhosamente sós ou da transformação do país numa espécie de Albânia da época comunista. No entanto, contra a corrente, mantenho-me firme nos meus ideais nacionalistas, tradicionalistas e grande apologista da alternativa atlântica como espaço económico alternativo. Para muitos serei um extremista, portador de ideologias perigosas ou um mero utópico.
Mesmo assim, ainda consigo apontar alguns exemplos no cenário europeu que me agradam no seu modelo governativo, independência e apego às tradições. Todos eles têm origem no Norte gelado e longe de serem territórios de grande importância geopolítica.
Em primeiro lugar indico a Islândia, povoada por descendentes de colonos noruegueses que ocuparam esta ilha situada no meio do Atlântico Norte antes do ano 1000. Os islandeses, os menos de 300.000 que o são, vivem num isolamento esplendoroso e não querem ter nada a ver com a União Europeia. Falam o norueguês antigo, a língua dos vikings, tratam-se pelo nome próprio (e é assim que estão registados na lista telefónica) e comem testículos de carneiro que empurram com uma poção violenta chamada "Morte Negra". Que eu saiba, não são regidos por nenhum ditador e toda a população ususfrui de um bem estar material muito satisfatório.
Outros exemplos curiosos, são os territórios atlânticos da Gronelândia e das Ilhas Faroé pertencentes à Dinamarca. Ambos possuem o seu próprio parlamento local, sendo Copenhaga responsável pela defesa, pela política externa e pela moeda comum. Os gronelandeses aderiram à UE em 1973, tendo-a abandonado seis anos depois, enquanto os cerca de 40.000 habitantes das Ilhas Faroé nunca aderiram. Será isto independência excessiva?!
Obviamente que são regiões em nada comparáveis a Portugal mas servem como testemunhos da existência de vias alternativas de construção europeia. Afinal de contas, existe vida, harmonia e prosperidade fora da influência dos radares de Bruxelas e Estrasburgo.
Gronelândia

7 comentários:

AnadoCastelo disse...

Eu comungo com as tuas ideias e não acho que sejam extremistas.
E só posso rir quando o nosso primeiro-ministro se quer "comparar à Finlândia" (palavras dele).
Beijinhos

Evelyne Furtado. disse...

acho legal vc expor suas idéias que fogem, a meu ver, da opinião comum.
Gostei do que li.

TONY, Duque do Mucifal disse...

Amigo Capitão,

Temos falado sobre este e outros temas ao longo da nossa vida.O certo é que parece que estamos cada vez mais "pobres".Aqui em Portugal existe a fobia do poder.Todos querem ter poder.E para que? Para aniquilar o seu próximo.É o paradoxo da democracia. Andamos a votar para encher o ego e os bolsos de um politico qualquer.
A sociedade actual está espojada de exemplos que tu relatas no teu post. Vejamos o caso dos Padres.
Os Padres ganham X mas só declaram Y à Segurança Social, para pagar menos!
Belo exemplo! Dizem que ainda se guiam pela antiga Concordata.
É penas os restantes contribuientes, que têm de pagar os impostos todos, não terem também uma Concordatazita qualquer especial!!!
É assim o meu/nosso Portugal!

Carla disse...

existe vida certamente, mas não existiam subsídios e afins que nos deixaram cair num marasmo sem igual durante cerca de dus décadas...fomos pelo caminho mais fácil: recebemos dinheiro repartido por meia dúzia de afortunados, esquecemo-nos de modernizar a indústria, de adaptar a agricultura às novas realidades e tornamos a formação profissional e o ensino uma fantochada nacional...e foi assim que anos passados ops outros cresceram e desenvolveram-se e nós continuamos calmamente àespera que um qualquer D. Sebastião surja do nevoeiro para nos tirar desta crise que nósróprios criamos...resta saber é até quando é que isso será possível!!!!
boa semana, capitão

Teresa disse...

que imagens lindas, capitão!

já fiquei com mais uns dados para registo :)

boa semana!

Tati disse...

episódio 2 no ar............
espero que goste...
beijo

Paula Crespo disse...

É bem verdade que os países nórdicos são os mais desenvolvidos da Europa e conseguiram atingir um patamar invejável. Eu não conheço bem a sua História, mas percebo que é bem diferente da nossa, ou seja, da dos países meridionais. E a principal diferença, penso eu, reside no factor religioso. É sabido que os países que aderiram à Reforma protestante caminharam num sentido bem diferente dos da Contra-Reforma, católica, e isso veio influenciar, de modo decisivo, todo o curso da sua História e o seu desenvolvimento.
Tudo isto para tentar dizer que há diferenças de mentalidade que não me parece que se possam ultrapassar facilmente, e que apesar de olharmos para eles como exemplo a seguir, os seus modelos são muito diferentes do nosso. Talvez não precisemos de ser tão ambiciosos; bastar-nos-ia olhar para modelos de desenvolvimento mais próximo de nós, com mais pontos em comum, e que seria boa ideia implementar por cá. Até em Espanha, por exemplo, e para não ir mais longe, poderíamos "sacar" boas práticas em muitos aspectos. Só para dar um exemplo próximo.