quinta-feira, 1 de março de 2007

O Crime do MSN


O paulista Carlos Eduardo Cabral, 18 anos, e seu primo, um adolescente de 17 anos, confessaram ontem envolvimento no assassinato da corretora de imóveis Célia Maria de Carvalho Damasceno, 43 anos, mas divergiram quanto à autoria do crime. Em depoimento à polícia, um atribui ao outro o espancamento e morte da vítima. Para a polícia, além dos dois, a namorada de Carlos Eduardo, uma adolescente de apenas 16 anos, também participou da morte. Ela se apresentou à polícia acompanhada do pai e, na DP, confessou que também bateu na vítima.
Segundo o subsecretário de Defesa Social, Maurílio Pinto de Medeiros, a corretora conheceu o adolescente de 17 anos pelo Messenger, um programa de bate-papo pela internet, há cerca de uma semana. Eles tiveram um encontro e marcaram para a noite de sábado, dia 24, um segundo encontro numa casa abandonada em Jenipapu.
A corretora foi ao encontro com o adolescente sem comunicar seu paradeiro. Sua família estranhou o desaparecimento e, desde o domingo, procurava por pistas de Célia Maria.

Segundo a polícia, a corretora foi estrangulada na noite de sábado e enterrada na madrugada de domingo. O delegado Maurílio Pinto concluiu que ela foi morta por Carlos Eduardo, a namorada dele de 16 anos e o adolescente de 17 anos, todos residentes no Parque das Dunas. “Todos eles estavam na cena do crime e têm participação. A menor, inclusive, ficou com o celular da vítima”, afirmou o delegado.
O motivo do crime ainda não está esclarecido, porque os acusados dão versões diferentes. O menor diz que o primo queria assaltar a vítima. Ele também revelou que a namorada do primo ficou com ciúmes de Célia Maria e, por isso, incentivou o assassinato e participou do estrangulamento. Carlos Eduardo, por sua vez, alega que o menor planejou o assalto que terminou em homicídio. Carlos Eduardo disse ainda que todos o três (ele isentou a namorada de culpa) estavam embriagados. A adolescente alega que a vítima foi morta para dar a senha do banco. “Eduardo chegou a tentar sacar dinheiro, mas não tinha saldo”, disse o delegado.

A polícia também confirmou que os três acusados participaram da ocultação do cadáver no quintal da casa. O corpo de Célia Maria só foi encontrado na noite de terça-feira, quatro horas depois do delegado Maurílio Pinto ter sido acionado para investigar o caso. “Tudo começou às 14 horas de terça-feira. A filha da vítima nos procurou com a cópia das mensagens entre a mãe e o adolescente. Eles falavam num encontro em Jenipabu. Aí descobrimos que uma pessoa havia ligado para o disque denuncia informando que um rapaz tinha enterrado uma mulher em Jenipabu”, explicou.
A filha da corretora marcou um encontro com o adolescente - que não a conhecia - e um policial da Subsecretaria de Defesa Social a acompanhou no carro para detê-lo. Com a localização do adolescente, os policiais civis, com o apoio da PM, chegaram ao primo dele, Carlos Eduardo, que mostrou o local onde o corpo foi enterrado. “A filha da vítima foi muito valente e corajosa. A participação dela foi decisiva para a elucidação do crime”, falou Maurílio Pinto.

“Eu acho que ela foi enterrada viva”

O adolescente de 17 anos, apreendido sob acusação de participação no assassinato, disse que viu a corretora Célia Maria ser assassinada, mas alegou que nada pôde fazer para impedir o crime.
Ele acredita que o primo dele, Carlos Eduardo, teve duas motivações para o assassinato: financeira, para roubar os pertences e sacar dinheiro da conta da vítima, e para mostrar a namorada que ela não precisava ter ciúmes de Célia Maria.
O adolescente também revelou que estava no começo de um “namoro secreto” com a vítima e não tinha interesse em assassiná-la. Ele revelou que tinha sido detido há alguns meses armado com um revólver. O depoimento dele é conflitante com a versão de Carlos Eduardo, que atribui ao menor a autoria do homicídio.


TRIBUNA DO NORTE: Como você conheceu Célia Maria?
Adolescente: Foi pelo Messenger. Eu entrei num bate papo e a encontrei

Esse era seu primeiro encontro com ela?
Adolescente: Não foi o segundo

Por que ela foi morta?
Adolescente: Eu não a matei

Quem matou Célia Maria?
Ele (Carlos Eduardo, primo do adolescente) e namorada dele (uma adolescente de 16 anos) mataram ela na minha frente. Ele (Carlos Eduardo) disse que ia me matar também. Eu não pude fazer nada. Fiquei calado, vendo

Por que você não pôde fazer nada?
Adolescente: Ele (Carlos) é violento. O cara deu uma facada na boca da irmã, bateu no pai dele e já quebrou tudo dentro de casa. Ele não é flor que se cheire. O cara fica doido quando bebe. Se ele fez isso com a irmã, imagine comigo

E por que Carlos Eduardo matou a corretora?
Adolescente: Porque a namorada dele ficou com ciúmes dela. Ela também matou. Querem jogar isso para mim, porque sou de menor

Foi só isso? Seu primo diz que foi você quem matou.
Adolescente: Ele quer jogar para cima de mim porque sou de menor. Ele deu um muro nela e depois ficou doido. A menina segurou ela pelo pescoço e ele ficou batendo. A idéia de matar foi também dela. Eles ficaram batendo, depois ele amordaçou ela com a camisa. Ele disse: se você falar também morre


A polícia está afirmando que seu primo queria assaltá-la. É verdade?

Adolescente: Ele ficou batendo nela e pedindo a senha do cartão. Ele dava chute, murro e a menina segurava. Ela não lembrava das coisas e ele batia mais. Ele bateu de “chapa” nela (com o facão)

Quem decidiu enterrá-la?
Adolescente: Foi eles (SIC). Eu acho que ela foi enterrada viva

Por que?
Adolescente: Porque ela tava quase morrendo. Aí ele pulou no pescoço dela

Você está arrependido?
Sim! Muito

“Eu também bati, mas foi uma porrada”

O paulista Carlos Eduardo Cabral, mais conhecido como “Gugu”, 18 anos, é apontado pela polícia como um dos autores do assassinato da corretora. Ele respondeu a processo em São Paulo por tráfico de drogas e há um ano mora em Natal, onde trabalha com o pai dirigindo cegonhas (carretas usadas para o transporte de carros).

O acusado atribui ao primo menor de idade a autoria do crime, mas confessa que chegou a espancar a vítima e a ocultar o corpo. Ele também nega que sua namorada, de apenas 16 anos, tenha participado do homicídio.

TRIBUNA DO NORTE: Porque você matou Célia Maria?
Carlos Eduardo: Não fui eu

Seu primo diz que foi você e sua namorada
CE: Ele (o adolescente de 17 anos) está mentindo. Ele queria roubá-la. Ele disse que ela tinha dinheiro. Foi ele quem premeditou tudo.

Então, qual a sua participação no crime?CE: Ele disse que queria o dinheiro. Eu disse que ia junto.

Que dinheiro?
CE: Quatro mil. Ele disse que ela ia comprar um carro.

Era um roubo?
CE: Era

E por que vocês a mataram?
CE: A gente foi dormir e ele colocou um pano na boca dela. Ele começou a bater nela, deixou o olho roxo. Eu também bati, mas foi uma porrada. O resto foi ele. Foi ele quem a enforcou

Por que?
CE: Não sei. Ele queria que ela desse o dinheiro

Quem teve a idéia de ocultar o corpo?
CE: Foi ele

Ele cavou e jogou o corpo sozinho?
CE: Ele cavou o buraco sozinho. Depois eu e ele colocamos ela

E depois?
CE: Eu fui embora a pé

Seu primo diz que sua namorada também participou do crime. É verdade?
CE: Não. Foi ele sozinho

Você conhecia a vítima?
CE: Não.

E seu primo, como ele conheceu a vítima?
CE: Não sei. Parece que foi no carnaval da Redinha

E por que ele a matou?
CE: Não sei. Ele queria o dinheiro e começou a bater nela. Ele amarrou ela e começou a bater.

Você não o impediu?
CE: ... (não respondeu)

Você está arrependido?
CE: ...(não respondeu)

Sente remorso?
CE: Sim senhor

Veja a conversa entre o adolescente e Célia Maria

A filha da corretora assassinada recuperou no computador a conversa no Messenger entre sua mãe e o acusado. Os trechos provam que o adolescente convidou a vítima para o local do crime, uma casa em Genipabu. No dia do assassinato, vítima e acusado mantiveram duas conversas, uma de madrugada e outra à tarde. Abaixo, alguns trechos do diálogo divulgado pela polícia.

Trecho da conversa no Messenger entre vítima e adolescente, ocorrida na madrugada de sábado, dia 24, cerca de 23 horas antes do crime.

Célia Maria - Quem vai estar na casa de Genipabu?

Adolescente - Ninguém porque? (a interrogação é vermelha com a fonte estilizada representando sangue escorrendo)

CM - Não vai ter nenhum problema?
A - A gente vai dar um rolé na praia e volta!

CM - Você tem a chave?
A - Não precisa de chave

CM - Como assim?
A - e aberto lá!
A - Mas ninguém entra! Só a gente!

CM - A sei
A - Só nós dois!

CM - Ok.

Trecho da última conversa no Messenger entre vítima e adolescente, ocorrida cerca de oito horas antes do assassinato.
Célia Maria - Acabei de chegar em casa
Adolescente - Ótimo!
A - To tc (teclando) com meu irmão hacker!

CM - Ainda vou ter que mostrar um apartamento a um cliente
CM - Agora, às 16h30
CM - Me ligue às 5 horas

A - Combinado!

CM - De onde eu estiver eu vou
CM - Aí nos encontramos no posto (Posto Jenipabu, perto da casa onde ocorreu o crime)

Adolescente - Então tá ótimo! Combinadíssimo!

CM - Ou no terminal de ônibus
A - Pode ser tb (também)!

CM - Terminal de ônibus
A - Demoro!

CM - Tchau
CM - Tomar banho
CM - Bjo (beijo)

A - Outro.

Adolescente se apresenta com o pai

A adolescente de 16 anos acusada de envolvimento na morte da corretora se apresentou na manhã de ontem ao delegado Maurílio Pinto e, depois de negar envolvimento, disse aos policiais que chegou a bater na vítima.

A jovem, no entanto, ressaltou que não matou a corretora. “O menor diz que o crime foi praticado por Eduardo e a namorada. Eduardo diz que ela não tem nada com o crime. Mas a adolescente confirma que chegou a puxar a roupa da vítima durante a briga. Ela disse que bateu na cabeça da mulher para ela dar a senha do banco. Por isso tudo, comunicamos o caso ao juiz e vamos apresentar a adolescente ao promotor da Infância e da Juventude”, disse Maurílio Pinto.

Corretora foi torturada e depois estrangulada

Segundo a polícia, a corretora Célia Maria foi torturada para fornecer aos bandidos a senha do banco. Ela foi amordaçada com uma camisa, teve as mãos amarradas para trás com o cordão de uma bermuda e ainda teve as pernas amarradas com uma corda. Ela foi espancada com o lado cego da lâmina de um facão e, quando já estava sem forças, foi estrangulada.
Para a polícia, o crime teve requintes de crueldade, sobretudo porque desde o momento que foi rendida, a vítima não apresentou reação. “Ela foi muito espancada. Eduardo diz que eles deram murros, chutes e pauladas”, contou o delegado. Depois de morta, Célia Maria teve o corpo ocultado numa cova rasa.
Célia foi assassinada em uma casa de primeiro andar abandonada, na estrada de Jenipabu, próxima ao posto Jenipabu. A área é habitada. De um lado da casa, tem uma residência colada muro com muro, e do outro funciona um barzinho. Os vizinhos contaram, no entanto, que na noite do assassinato, domingo, não ouviram nem viram nada estranho. Antes, porém, os moradores próximos disseram ter avistado, na casa, Célia na companhia de Carlos e do primo. Também disseram que Carlos era o caseiro do imóvel, que foi comprado há dois anos por uma pessoa que seria seu tio e que mora em São Paulo mas que nunca chegou a investir no local. Segundo os vizinhos, Carlos costumava usar a casa para fazer festinhas regadas à bebida nas quais reunia moças e rapazes. No carnaval, ele foi visto com uma turma farreando lá.

Psicanalista alerta para os riscos da internet

O Orkut e o MSN, sites em que Célia Maria de Carvalho navegava com freqüência para conhecer pessoas, são uma febre. Gente de praticamente todas as idades e de ambos os sexos passam horas neles em busca de relacionamentos virtuais, que funcionam como um excelente remédio para a solidão. E muitos acabam levando o relacionamento do mundo digital para o real, como fez a corretora de imóveis.

A psicanalista Ruth Dantas não entrou no caso particular de Célia, até porque não sabe nada sobre a vida da corretora e da família, mas a recomendação de Ruth serve para todos. Ela diz que é preciso um cuidado redobrado antes de dar um passo à frente.

“Na internet, corre-se um risco muito maior porque no contato real a pessoa vê a outra, suas feições, gestos, jeito. Há algumas pistas para saber quem o outro é. Claro que se pode mentir, enganar, mas na internet é ainda mais fácil”, fala Ruth, lembrando que na net existem muitas pessoas usando nomes e perfis falsos (são os populares “fakes”).

A psicóloga entende que, no geral, os relacionamentos pela internet são a marca dos tempos atuais, em que tudo é descartável. “As pessoas se encontram e depois somem. Fica-se tentando encontrar alguém sem que se precise se comprometer seriamente”, diz a psicanalista. Há, no entanto, casos bem sucedidos de relacionamentos que começam na rede mundial de computadores. Mas o exemplo que deve ser levado em consideração é o e Célia.

A corretora era divorciada, mas morava com o ex-marido. Ela deixou dois filhos, um rapaz de 17 e uma moça de 20 anos.

Artigo de Augusto Bezerra in Tribuna do Norte (01/03/2007)

Um alerta muito sério, para a forma leviana como que muitas vezes expomos a nossa vida privada na internet e nos relacionamos com as nossas amizades "virtuais"...

17 comentários:

Miguel disse...

Too Long, Boy ...!

Um abraço da Matilde e Cª!

Maríita disse...

Mas nesse país é tudo em grande???????????? No outro dia era uma criança arrastada num veículo automóvel. Hoje são 3 adolescentes que matam uma mulher de 43 anos. Agora, que mal pergunte, o que é que ela queria com essas crias?

TONY, Duque do Mucifal disse...

bem, capitão.
já li. que camião de emoçoes. bolas...tou banzado.
que crueldade. estava a ler o teu post e a ver a TVI onde noticiava o assassinato de 5 filhos pela propria mÃe.
MUNDO LOUCO. Infelizmente, a vida rela é muito dificil e cria muitas desilusões e se procura na rede virtual o que nao se tem na vida real.
é um caminho perigoso.
TOU SEM PALAVRAS....

Unknown disse...

Esta história só sabia por alto, n tão ao pormenor, fikei horrorizada com o que li, penso mesmo k n acontece só no Brasil, mas sim se transportarmos o mundo virtual para o real, nos pode acontecer, é necessário ter muito cuidado, tenho conhecido gente boa através da net, e alguns passaram para amizades reais, mas n posso negar que tive algum medo e que os primeiros contactos foram sempre em sitiod públicos e com amigos.

sem-comentarios disse...

Acontece com cada barbaridade...mas sabes, apesar agora se horrorizarem com crimes que aparecem atraves da net...eu sou das pessoas que defende, que fora da net...os perigos ainda continuam a ser maiores.

Breaking disse...

Estou chocada!
Contudo penso que o mesmo podia ter acontecido se em vez da net o local de conhecimento tivesse sido, por exemplo, uma discoteca ou a praia. Mas é verdade, é preciso ter prudência.

Teresa Durães disse...

credo :(

Sofia disse...

Infelizmente o histórico de crimes (não necessariamente homicídios ) com relações que se iniciaram pela net é grande. É preciso ter muito cuidado.
Abraços,

Anónimo disse...

Cruel realidade

Gi disse...

Assustador. A falta de respeito pela vida humana é uma realidade cada vez mais implantada na nossa sociedade. Os valores estão em crise os perigos espreitam a cada esquina e a net não é excepção.
Em vez de diser assustador devia ter dito que Tristeza. Afinal é o empobrecimento da nossa espécie.

Beijo

Claudinha ੴ disse...

Que coisa horrenda! Temo pelos jovens e podem cair numa armadilha destas... se uma mulher madura caiu... Um beijo!

Rubi disse...

Infelizmente mata-se por tudo e por nada. Que crueldade. Os relacionamentos online podem ser perigosos, mas há casos de sucesso, conheço alguns no meu círculo de amigos. Os cuidados devem ser maiores, mas mesmo na vida dita "real" também acontece. Quantas vezes não ouvimos sobre o marido ideal, que sai para o trabalho e com uma rotina, e que após o trabalho, antes de se juntar à família para jantar, mata prostitutas, enterra e só anos depois descobrem que estiveram casadas com um assassino???

Sereia disse...

Por essas e por outras é que não quero o teu msn! :)

teresa.com disse...

Bolas! Da mesmo que pensar!!

eudesaltosaltos disse...

Q horror...

Belinha Fernandes disse...

Que história!E eu que até já conheci pessoas através da Net!!Mas eram seguras e depois acabei por desistir não por causa do risco mas porque não dava andamento aos conhecimentos e era aborrecido ser evitante e era aborrecido para quem me tinha conhecido.

Lua disse...

Infelizmente estas coisas começam a ser muito frequentes e não é só no Brasil.