quarta-feira, 11 de abril de 2007

Férias em Natal - Episódio 6


Natal, Sábado - 07 de Dezembro 2008, 00:15h

Luís terminara de jantar com Patrícia. A conversa tinha fluído de modo agradável e ele sentia-se cada vez mais atraído pelo olhar daquela morena. Após o jantar, entram no carro e permanecem em silêncio. Luís sempre fora um mulherengo de primeira linha, mas existia algo em Patrícia que o deixava mais acanhado. Ela decide tomar a iniciativa. Coloca as mãos na nuca dele; as duas bocas tocam-se num beijo intenso. Ambos eram suficientemente adultos para terem plena consciência de como aquela noite iria terminar. Luís liga o carro e arrancam na direcção de um motel que o Ferreira lhe indicara. Após terem estacionado o automóvel na garagem, sobem até ao quarto e Patrícia diz que precisa de tomar um banho. Ele despe-se, atira-se para cima da cama redonda e liga o televisor. No ecrã passava um monótono filme pornográfico. "Porque será que as mulheres são tão demoradas?" - pensava Luís, enquanto escutava a água do chuveiro. O vinho do jantar e as noites mal dormidas faziam-no sentir o corpo cansado, os olhos pesavam cada vez mais...

Enquanto isso, os restantes elementos do grupo ainda degustavam um excelente jantar tardio, confeccionado pelo Ferreira que aprimorava cada vez mais os seus dotes culinários. O azar do dia anterior tinha refreado o ímpeto conquistador dos rapazes que, mantinham uma conversa séria, coisa rara nas suas reuniões.
- Por vezes, questiono-me sobre esta nossa necessidade de estar sempre a ter casos paralelos aos nossos casamentos. Vocês não pensam no mesmo? - questiona o Fonseca.
- È claro que penso sobre isso. Olhem para o meu caso. Não posso dizer que tenha sido muito bem sucedido no casamento. Eu sei que vocês acham a minha mulher uma dondoca e não vos tiro a razão. Optei por casar com a Constança porque ela era bonita e elegante. Ficava bem ao meu lado nas festas e tinha aquele ar aristocrático que sempre apreciei. No entanto, com o passar do tempo fui-me cansando das suas futilidades. Ajudei-a na abertura da boutique e proporciono-lhe algum conforto. Em troca, ela não se mete na minha vida, viajo para o Brasil quando quero e claro que ela sabe que tenho os meus casos. A última foi aquela miúda de vinte anos que vocês viram uma vez... - disserta o Ferreira, enquanto fuma um cigarro.
- Cada um com a sua cruz. Olhem, os problemas que tenho com a minha relacionam-se basicamente com dinheiro. Por vezes excede-se nas contas do cartão de crédito. Fico fulo! E também acho que a gravidez dela foi um pouco prematura... - diz o Fonseca.
- Eu divorciei-me da Sónia devido aos ciúmes dela. Como sabem, os meus engates saem quase sempre frustrados, mas ela imaginava-me sempre com um monte de amantes. Para além disso, também já estava saturado do eterno mau humor dela. Mas não se preocupem muito com isso. Nós homens, temos essa necessidade de transgressão que elas nunca irão compreender - refere o Reis.
- Vocês nem vão acreditar no que a minha mulher me disse há tempos! Veio com umas conversas sobre a rotina do nossa relacionamento sexual. Propôs que fôssemos a uma daquelas festas onde se fazem trocas de casais. Swing, não é? Disse que era para apimentar o casamento...dá para acreditar? - confidencia o Lemos um pouco embaraçado.
- Porra! Ela deve estar é doida! Eu nem admitia que minha viesse com uma conversa dessas. A não ser, que ela quisesse convidar uma amiga para dividir a cama connosco -atira o Ferreira, rindo à gargalhada.
- Mudando de assunto...vocês não estranharam, o facto delas ainda não nos terem ligado? - interroga o Lemos.
- Como é que queres que elas nos liguem, se nos roubaram os telemóveis? - responde o Fonseca.
- Sim...mas isso foi na madrugada de quinta-feira. Antes disso, ainda tivemos vários dias contactáveis - relembra o Lemos.
- E tu por acaso tentaste ligar para a Marta? - pergunta o Ferreira no gozo.
- Pá, por acaso até tentei ligar na quarta-feira. Em casa ninguém atendia e o telemóvel dela estava desligado.
- Hum...estranho, não acham? Bom, se isso acontecesse comigo até nem me admirava. Ou estava enfiada no salão de beleza ou então teria ido a um daqueles cocktails cheios de tias e bastante enfadonhos - o Ferreira não perdia o bom humor.
- Cá para mim, juntaram-se todas para conspirar contra nós. E deve ser a Sónia que anda a meter veneno junto das outras. Ela não se conforma de me ter perdido! - opina o Reis.
- È capaz de ser isso. Só espero que a Lúcia não tenha feito despesas desnecessárias na minha ausência - conclui o Fonseca.

Natal, Sábado - 07 de Dezembro 2008, 07:00h
Nessa manhã, Luís acorda com um doce sussurro no seu ouvido.
- Acorde meu querido...está na hora! Tenho de sair para trabalhar.
- Hum...como é? - responde ensonado - Que vergonha! Nem quero acreditar que adormeci desta maneira...
- Eu entendo. Esqueça isso...foi muito bom ter ficado juntinho de você.
- Mas...espere mais um pouco. Assim não vale! - diz ele agarrando Patrícia pela cintura.
- Não posso. È sério...tenho de estar no hotel daqui a pouco. Tenho de acompanhar um grupo de turistas que chegou ontem de S.Paulo.
- Hoje à noite, podemo-nos encontrar novamente? - Luís não escondia a sua frustração.
- Não dá. Tenho muita pena, mas vou ter de acompanhar esse grupo este final de semana inteiro.
- Porque é que não me acordou? - insistia Luís.
- Não se precocupe com bobagens. Foi bom...você fica lindo dormindo, sabia? Por vezes o sexo é apenas um detalhe...
O casal despede-se desta forma abrupta e inesperada. Ambos prometem mantar contacto via internet e telefone. Luís deixa Patrícia na portaria do hotel, onde se despedem com um beijo terno. Quando entra no apartamento, dirige-se para a sala, senta-se no sofá e fica imerso nos seus pensamentos. Os amigos dormiam nos quartos. Ele ficou ali sentado entregue à sua melancolia. Nunca imaginara que uma situação destas lhe pudesse acontecer.

O grupo de amigos decidiu passar o sábado na praia. Para felicidade do Luís, os outros tinham sido bastante discretos e poucas perguntas fizeram sobre a noite anterior. Já estavam na véspera da partida para Lisboa, queriam aproveitar o máximo e regressar aos seus empregos com um bronzeado invejável. A meio da tarde, são abordados por dois rapazes - Mauro e Rodrigo - que os desafiam para uma partida de futebol de praia. O amigável luso-brasileiro terminou com um surpreendente empate a cinco bolas. A equipa portuguesa era constituída por trintões que evidenciavam má forma física, devido aos excessos cometidos naqueles dias, mas que ainda assim deram uma boa réplica aos brasileiros. O jogo ficou marcado por uma excelente exibição de Luís na baliza e pelo instinto goleador do Lemos que marcou três dos cinco golos lusitanos. Os destaques negativos ficaram por conta do Fonseca que não se adaptava ao forte calor e pelo Ferreira que insistia em fazer placagens nos adversários. Ele teimava em confundir as regras do futebol com as do râguebi!
No final da partida, Mauro e Rodrigo, ainda tentaram arranjar uma briga com o grupo, em virtude do excesso de faltas cometidas pelo Ferreira, mas eles decidiram ignorar as provocações. Bastava de sarilhos no Brasil.
Após saírem da praia, fazem uma incursão pelas lojas de artesanato nas proximidades. Aproveitaram para comprar algumas lembranças para as suas esposas, amigos e colegas de trabalho.

O serão foi preenchido com um simpático jantar no restaurante Casa Portuguesa. O Ferreira convocara vários amigos que tinha na cidade e por ali ficaram durante umas horas na conversa. Contudo, os efeitos do vinho ingerido não tardaram a surgir. Na saída, ainda trataram de importunar um grupo de turistas portuguesas que estavam numa mesa próxima. Ao aperceberem-se do estado alcóolico do grupo, decidem ignorá-los ostensivamente e eles acabam por desistir das investidas.
Despedem-se do amigos brasileiros, metem-se no carro e arrancam de forma veloz em direcção ao Forró do Pote que se situava na periferia. Pouco antes do jantar, o Ferreira ainda tentara ensinar os fundamentos daquela dança sensual aos amigos, mas de nada lhes adiantou. A falta de maleabilidade na cintura era exasperante, velendo-lhes mais tarde, a ajuda das parceiras de dança que lhes iam impondo o seu ritmo. A meio da noite, já conseguiam dançar de modo aceitável e aproveitavam a proximidade da dança para dizer um monte de baboseiras nos ouvidos do mulherio. Definitivamente, o álcool e a sedução não eram bons aliados. Elas riam e conversavam com os rapazes mas momentos depois, escapuliam das garras deles. Entretanto, o Luís retirara-se do recinto e dormia no carro. Os amigos tinham estranhado o mau humor dele durante o dia, mas tinham-no poupado de perguntas desnecessárias. O Lemos já pouco se mexia. O jogo de futebol na praia tinha-o deixado exausto. Na pista, restavam apenas o Ferreira, Fonseca e Reis que não paravam de dançar no seu passo cambaleante.
O relógio marcava três e meia, quando decidem retornar a Ponta Negra. Por milagre, chegaram ilesos a casa, já que todos eles se encontravam num estado lastimável. As férias estavam no final. Nenhum deles tinha conseguido atingir o objectivo de conquistar o maior número de mulheres possível. Regressavam a Portugal com o placard a zero e receando enfrentar as crises de ciúmes das suas companheiras.

Voo YSS501, Domingo - 08 de Dezembro 2008, 19:05h
A cidade de Natal e o calor ficavam para trás. Estavam de regresso a Lisboa. Apesar dos desaires amorosos, a viagem tinha reforçado ainda mais o espírito do grupo. A sua amizade era indestrutível. O grupo parecia outro durante o voo de regresso. Permaneciam silenciosos. Sentiam-se cansados e não tardou muito para que o Reis e Lemos mergulhassem num sono profundo. Luís olhava absorto para a janela do seu lado. Ainda não se tinha recomposto do desaire perante Patrícia. O Ferreira assistia ao filme que passava nos ecrãs e, ao seu lado o Fonseca, lia atentamente uma revista sobre turismo.
Será que teriam alguém à espera deles no aeroporto? A aterragem estava prevista para as seis da manhã de segunda-feira...

Não percam o último episódio desta blogsérie, na próxima quarta-feira!

15 comentários:

Maríita disse...

Então vão-se embora? E o Ferreira sempre é despedido das suas funções de espião? Bem, pelo menos neste episódio há a virtude de percebermos que eles até pensam e são uns frustrados. Menos mal que já estava um bocadinho farta de homens tão patéticos.

LoiS disse...

Fénix, aqui senti mesmo que os tipos são uns machões do pior.

Espero mesmo que as mulheres dos que ainda são casados, estejam com os respectivos advogados à espera dos machos no aeroporto.

Aliás, só casamentos de fachada permitiriam tal deboche masculino!

Permite-me só uma história verídica:

Uns amigos, recentemente contaram-me, que à uns bons anos atrás foram de férias entre amigos para o Brasil. No regresso, a angélica namorada/noiva de um dos do grupo, esperava-o doce e apaixonadamente no aeroporto, toda saudosa, completamente cega de amor!

O grupo chegou ... só que o respectivo dessa querida não!

Regressou 15 dias depois...acompanhado!

Claro que actualmente não está nem com uma nem com outra ;)

(histórica verídica)

Tati disse...

gostei muito. Gostei de ler neste episódio traços do contraponto!
Pena que Luís dormiu, algo me diz que ele teria uma enorme surpresa se visse Patrícia nua.....
Algo a la Roberta Close, hahaha
Beijo

Rita disse...

o luis foi literalmente usado pela pat!!!!!!!! ahmulher de garra!!!!!!!lol ; )

sem-comentarios disse...

Noto que cada episódio que escreves, que a "novela" vai ficando cada vez mais empolgante.
Mas, os fulanos são mesmo machões!

Bjs :=)**

Anónimo disse...

Até fazem pena de tão machões!

Estou cheia de curiosidade para saber o que os espera

Anónimo disse...

Estou ansiosa pelo último episódio.
Palpita-me que à chegada vão ter uma surpresa menos agradável da parte das esposas. Tanta falta de interesse durante a ausência dos estarolas...
E afinal vamos saber mais pormenores sobre a vida dupla do Ferreira?

Rubi disse...

Muito bom Capitão-mor :)

Beijo

Gi disse...

Bom capitão, mas porque é que nos casamentos que correm mal a culpa é sempre das mulheres pôh?!...Dondocas, gastadoras, insatisfeitas e os homens coitadinhos só são "machos" coisa perfeitamente normal e naturalmente desculpável ;O) Quero ler o resto (desta vez esqueceste de avisar :) ) e sempre quero ver o que as "damas" lhes aprontam eheheh (olha que tens aqui muitas leitoras femininas :O) )

beijinhos

Prof disse...

As tuas personagens são, de facto, um estereótipo do machão cheio de preconceitos no que concerne às mulheres. Não é só à condição masculina que é inerente a necessidade da transgressão...
Não obstante, estou a gostar bastante da tua blogsérie. Escreves muito bem, mas isso já eu sabia.
Beijos!

Anónimo disse...

Ferreira, tenha uma boa viagem e volte sempre!
Pena que vocês já estão de partida.
Beijinhos :)

Lara disse...

ahahaha adorei!!!!

gostei sobretudo como falaram das "esposas"... pois é, conversas de homens, mas quando a mulher tem alguma ideia mais radical... voces ficam logo indignados!

"Propôs que fôssemos a uma daquelas festas onde se fazem trocas de casais. Swing, não é? Disse que era para apimentar o casamento...dá para acreditar? - confidencia o Lemos um pouco embaraçado.
- Porra! Ela deve estar é doida! Eu nem admitia que minha viesse com uma conversa dessas. A não ser, que ela quisesse convidar uma amiga para dividir a cama connosco -atira o Ferreira, rindo à gargalhada."


lolll gostei do post!
espero que no proximo capitulo tenham o castigo que merecem! :)


e tu migo, por onde andas?

beijos

Cristina disse...

As férias dos "nossos" tuguinhas já estão a acabar??? Estou curiosa... as meninas deles não vão ser nada meigas - cheira-me!

Peço desculpa pela minha ausência prolongada... fases menos positivas!

Um grande beijinho, boas escritas e bom fim-de-semana

Tati disse...

Nossa, capitão, muito obrigada pelo elogio. Estava esperando acabarmos para te agradecer pela maravilhosa idéia do contraponto, escrevê-lo tem sido uma experiência deliciosa.
Grande beijo

Unknown disse...

Primeiro eu adorava saber se a Patricia n seria transsexual naquela passagem em que só o exterior está definido, e tou mortinha para saber o que andaram as senhoras a fazer por cá na ausência dos homens, é que esta blogosérie só fala mesmo das infidelidades dos homens, e se uma das companheiras/mulheres tb tivesse sido infiel?
O que iria acontecer?
Tou a adorar, bom resto de semana