segunda-feira, 23 de abril de 2007

O pecado de Paulo Portas


O regresso de Paulo Portas à política activa transformou-se na telenovela preferida da direita portuguesa. Nobre Guedes ameaçava avançar para a liderança do CDS, mas prometia sair da frente assim que Portas aparecesse na esquina. Nuno Melo, líder da bancada parlamentar portista, não escondia, em entrevistas, o inconsolável saudosismo pelos tempos idos do ex-líder.
E até o episodicamente ressuscitado Santana Lopes, trazendo no bolso a ressurreição do famigerado Partido Social Liberal («Admito que possam acontecer mudanças no sistema partidário do centro-direita», avisa, lembrando que não assinou «um contrato de jura eterna com o PSD»), fala num ressurgimento de Portas que poderá dar «origem a fracturas irreversíveis» à direita.
Este sebastianismo recauchutado para o regresso de Portas depara-se, contudo, com três problemas. Primeiro, os portugueses ficaram devidamente vacinados com o espectáculo da dupla Portas/Santana na governação do país. E expressaram-no, de forma exuberante, nas eleições legislativas, ainda recentes, de 2005. Segundo, as próximas legislativas só ocorrem no final de 2009. Alguém, no seu perfeito juízo, como Portas, se daria ao trabalho e ao ónus de fazer cair já Ribeiro e Castro da liderança do CDS, para aí ficar a aboborar e a desgastar-se politicamente durante três anos? Pelos vistos, parece que sim...pela evolução dos últimos meses, sou levado a acreditar que Portas nunca leu A Arte da Guerra.
Terceiro e insuperável problema: Paulo Portas escolheu, ao debutar politicamente, o partido errado. O pequeno CDS nunca poderá satisfazer os limites da sua ambição política. Ambição que o levou a ir para deputado, a depor Manuel Monteiro da chefia do CDS, a aceitar um acordo com o abominável Durão Barroso, a permanecer em palco de braço dado com Santana Lopes. O final não foi feliz.
Mas o pequeno CDS apenas tem para lhe oferecer uma restaurada reposição desse filme menor. E o mesmo papel subalterno. Portas escolheu o partido errado. É esse o seu pecado original.
Eu só sei, que deixei de me rever naquele que foi o meu partido durante vários anos. Nunca tive medo de me assumir como um homem de direita e monárquico, mas sinto-me orfão a nível partidário e creio que assim irei permanecer durante muito tempo. Só lamento o tempo que perdi neste partido, durante o meu período de militância mais activa...

Actualmente, como já deveria ter sido feito em meados da década de 90, urge marcar uma prioridade nacional e não deixar o país avançar (mais ainda?) em caminhos irremediáveis de auto-destruição de soberania - monetária (essa já foi), política ou mesmo militar - por acordos leoninos, por seguidismo bacoco ou optimismo cego, de que seremos defendidos, alimentados, vestidos e apaparicados por nações vizinhas, sem nada em troca!
Nestas coisas, a responsabilidade de risco é fundamental e os efeitos preversos da euforia, deram já, em trinta anos uma "exemplar" descolonização e uma obscura socialização pós-25 de Abril. Hoje, verifico que já se atingiu uma "exemplar" integração europeia que estagnou a economia de Portugal, grande parte por culpa de Governos inoperantes e por uma classe empresarial mal formada.
Durante estes anos, os políticos ignoraram quase por completo a nossa tradicional vocação atlântica que poderia criar uma interessante dinâmica empresarial, em funcionamento paralelo ou alternativo à UE. Acredito que seja mais uma batalha perdida. O Brasil com o seu enorme potencial de mercado e até mesmo os PALOP, já possuem fortes acordos económicos com outros países.
Portugal necessita mais do que nunca, de políticos de fibra e claramente empreendedores. No entanto não será com um CDS/PP com uma indefinição ideológica e eleitoralmente quase moribundo que chegaremos lá. Muito menos com aberrações folclóricas do tipo PNR que pretende ignorar todo o passado histórico de uma nação, colando-se a modelos xenófobos importados de outras paragens.
Faltou-nos um debate sobre um projecto para Portugal. Mas é certo que o "povinho" sempre preferiu alienar-se com futilidades e os governantes foram agindo a seu belo prazer. "A política é uma seca" - diz muita gente da minha geração. Bom, então deixem o barco afundar de vez e depois não se queixem "que isto está mau"...
Bem sei, que me podem acusar de ser um mero expatriado, puramente teórico e que agora se limita a lançar umas bolas para o pinhal. Mas é justamente esse distanciamento que me permite ver com maior clarividência, o abismo em que Portugal se encontra. Apelo aqui a todos, que se preocupem mais com o que se passa à nossa volta a todos os níveis e, que participem pela via política ou cívica de formar a mudar os rumos da nosso país.

13 comentários:

Maríita disse...

"Hoje, verifico que já se atingiu uma "exemplar" integração europeia" toda a gente sabe que tal não é verdade, que Portugal foi o aluno exemplar no tempo de Cavaco Silva, apenas para se vir depois a lamentar não se ter usado o tempo das vacas gordas para fazer alterações de fundo, aquelas que a Espanha fez nesse mesmo período. A reforma da administração pública que tanta polémica tem gerado.
Perdoa-me a frontalidade, o problema de Paulo Portas foi não ter aguentado sossegadinho a travessia no deserto que Ribeiro e Castro estava a fazer. Infelizmente para o CDS, que eu cá nunca fui do PP, a ideia de país que primeiro Monteiro e depois Portas apresentaram, foi somente uma demagogia completa.

Bem, deixemos este tema por aqui que me deixa mal disposta e o meu mau humor é já famoso.

Capitão-Mor disse...

Isso foi referido no meu texto. Grande culpa da nosso atraso, deve-se a uma classe empresarial retrógada que não soube fazer um uso correcto dos fundos comunitários.

Apesar de todos os seus defeitos, creio que o programa eleitoral de Monteiro em 1995 não era assim tão demagógico. Era essencialmente eurocéptico e hoje está provado que ele tinha razão em muitas matérias.

Breaking disse...

Sabes? Um dia destes ainda vamos ver um grande cartaz "Liquidação total... lindo país à beira mar plantado vende-se... a qulaquer preço!"
Muito cedo, na adolescência, fui tomando consciência política, aliás prefiro chamar-lhe civica. Não sou partidária de nenhum partido, nunca fui e penso que jamais serei, mas sempre estive atenta e alerta e foi formando a minha opinião, raramente perdia um debate ou intervenção! Mas sabes uma coisa??? Cansei, não tenho paciência para disparates, manobras palacianas, peixeiradas e afins! No fundo sinto que há pouca seriedade no cenário político português... e nunca gostei de circo, nem mesmo em criança!

Boa semana

Lara disse...

Os portugueses estão tão desanimados, que já pouco se importam com o ue se passa á volta deles... infelizmente!

beijoooo

Capitão-Mor disse...

Breaking the Waves:
Mais uma vez vejo que as minhas ideias têm ilustração. Em 1995, numa espécie de futurologia, o CDS/PP avançava com uns cartazes de campanha desse tipo.

Anónimo disse...

Não posso concordar contigo na primeira parte do teu "post". Embora ache que havia pessoas mais indicadas para suceder a Ribeiro e Castro (RC) (vide Pires de Lima, Mª José Nogueira Pinto, dentro do CDS, e Ferraz da Costa, de fora), Paulo Portas (PP) torna-se, neste cenário, o menor dos males. RC provou que qualidades pessoais não são suficientes para se ser um bom político. Faltou-lhe maquiavelismo e perfídia, coisas, aliás, que PP tem de sobra...

Não concordo também quando dizes que houve um erro de escolha de "timing". Deixar RC arder em lume brando (que é o que estão a fazer no PSD a Marques Mendes) é um acto de grande cobardia, para além de lesa-nacionalismo, porque é não fazer qualquer esforço para evitar que o PS ganhe as próprias eleições, a troco de um mero cálculo pessoal. PP terá assim cerca de 2 anos para preparar uma oposição no centro-direita que possa ter um resultado palpável nas próximas legislativas. PP jogará, penso eu, com a fragilidade de Marques Mendes para assim criar uma bolsa liberal-conservadora (versus a social-democracia cavaquista que MM possui) à direita do PSD mendista. Se o CDS conseguir ter entre 12 a 15% poderia obstaculizar a uma maioria absoluta do PS (dúvido que Sócrates se restabeleça integralmente da crise UnI, tendo em conta o quão mesquinhos somos com as questões de tratamento social e graus profissionais...) e tornar-se assim num partido charneira para as próximas legislaturas.

Também não concordo que a nossa geração seja apolítica. Há alguns factos indesmentíveis que nos vêm provar que: a) existe formação política numa certa franja da geração dos "twenty-thirty something"; b) talvez pela primeira vez no pós-25 de Abril essa franja é de direita sem ser anti-democrática; é conservadora politicamente sem ser reacionária; é liberal economicamente sem ser social-democrata; é liberal comportamentalmente sem ser desresponsável. Isso pode ver-se na blogosfera através do predomínio notório da direita neste novo espaço comunicacional. Mas sobretudo em espaços maiores como nas revistas "Análise Social", "Atlântico", "Sábado", "Nova Cidadania", "Magazine Grande Informação"; na influência académica do ICS, do IDN e na Faculdade de Economia da Nova; em projectos editoriais como a "Tinta da China", "Aletheia" e "Guerra e Paz".

Finalmente, não posso também concordar contigo quanto te lamentas do tempo que perdeste na militância partidária activa. Essencialmente por duas razões: 1º) essa experiência tem-me servido para ter uma visão mais adentrada da realidade político-partidária portuguesa, da qual muita gente fala de cátedra, sem nunca ter tido essa experiência: 2º) as barrigadas de riso que não tivemos em alguns desses episódios...

Saudações doutro exilado.

Rubi disse...

Capitao-mor

As movimentacoes dos playboys da politica portuguesa atingiram niveis novelescos. E evidente que Paulo Portas tem ambicoes desmedidas, e evidente que esta no partido errado, mas e tambem bem claro que nao sabe fazer mais do que andar nos corredores da politica. Eu preferia-o inconsequente, irreverente e jornalista, aos 25 anos e no independente...
Irrita-me que a toda a hora digam que a geracao actual, vintoes e trintoes, nao se importa com a politica. La porque se mantem calados nao quer dizer que nao observem o que se passa, nem que nao tenho opiniao sobre os assuntos. Mas preferem partilha-los com quem tem confianca, ou guarda-los para si. Ha algum mal nisso?
Os playboys do governo de Santana ficaram que nem baratas tontas quando o governo caiu, quais orfaos da mamalhice. Uns casaram, outros optaram por dar voltas ao mundo em cargueiros, outros atropelam colegas de partido para saltar a lideranca.
Engracado tambem observar que os pessimos politicos sao os que conseguem melhores carreiras internacionais, vejam o Barroso e o Guterres...Roma sempre pagou aos traidores, e bem...
Concordo contigo quando apontas o descuido com a nossa vocacao atlantica, afinal a Europa poderia comecar em Lisboa e nao em Madrid.
Excelente texto! :) (desculpa os erros, o teclado e ingles)

eudesaltosaltos disse...

sinceramente, acho que ele teve uma atitude bastante condenavel em toda esta "novela"...

Anónimo disse...

Não,não Capitão

A grande culpa do atraso deve-se a Cavaco Silva que não fez as reformas que deveria ter feito e que só agora se estão a fazer, quando teve os dinheiros da UE para os fazer.
As reformas eram pertença do Estado, e não dos privados.
É fácil governar bem em tempo de vacas gordas e não preparar o país para o futuro.

Dito isto, os privados também são uma tristeza.

Temos opiniões diferentes.

beijinho

Fúria das Águas disse...

Pelo jeito nãoé so no Brasil que temos tantos politicos ruins, vejo em quae todos os blogs criticarem os politicos de portugal. Deve ser a raça que é ruim mesmo rsrsrs.
UM beijo
Furia
Obrigada pela visita em meu blog menino.

Teresa disse...

PARABÉNS capitão! ;)

Anónimo disse...

Ó xeu capitão, politiquices à parte, queria só deixar um abraço de parabéns! Que tenhas um bom "25 de Abril" lol

Anónimo disse...

È com algum pesar que assisto ao teu divórcio com o partido. De qualquer forma, sabes que as portas irão estar sempre abertas para ti. Precisamos de homens verticais como tu!
Abraço