sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Quem te viu e quem te vê...


Na década de 90, aderi entusiasticamente ao CDS/PP juntamente com alguns amigos meus. Fomos seduzidos pela dupla dinâmica Monteiro-Portas que tinha tomado de assalto, a direcção de um partido praticamente moribundo. Os discursos nacionalistas e anti-federalistas faziam todo o sentido naquela época. "Uma Europa de Nações", bradavam os jovens turcos. Em matéria de defesa, segurança e luta contra o crime, o CDS/PP advogava os princípios que faziam parte de uma tradição realista e conservadora.
Na política social, a exigência de um mínimo ético de solidariedade, que todos devemos aos nossos compatriotas - exigência cristã e de elementar compaixão e humanidade - equilibrava-se com uma forma realista e responsável de financiar tais gastos com equidade.
Estas bases programáticas e a confiança nas convicções dos líderes do CDS na época, fizeram-nos abraçar uma militância activa. Após as eleições de outubro de 1995, em primeira análise, a não obtenção dos dois dígitos percentuais, que fora uma espécie de marca simbólica de sucesso, foi compensada, por uma ultrapassagem do PCP, tornando-se o terceiro partido nacional. Passada a barreira da sobrevivência, que tinha de ser alcançada como foi - com agressividade, com risco, algum popularismo e partir de loiça - não se conseguiu construir uma imagem sólida de partido de direita. Preferiu-se enveredar pela espectacularidade táctica, acrobacias mediáticas, vedetismos e o partido estilhacou-se em diversas facções que e canibalizaram entre si.

No final da década de 90, ficou claro para mim e para os que me acompanhavam, que a pequena política que se fazia no Largo do Caldas não era compatível com a nossa noção de ética e de vida partidária. As pequenas vaidades, a sabotagem e intrigas absurdas fizeram-nos desacreditar no partido que nos mobilizara. No entanto, optei por um recuo táctico e aguardar que novos ventos soprassem nas hostes populares. De nada adiantou. A gota de água que viticinou o meu afastamento total - embora ainda tenha o meu cartão de militante - deu-se quando vi figuras execráveis como João Almeida, João Rebelo ou até mesmo uma figura obscura como José Lino Ramos - ex-Governador civil de Lisboa - assumirem posições de destaque.
Anos mais tarde, digamos que a prestação dos populares no Governo de coligação com o PSD também não foi particularmente brilhante e o partido foi-se afundando cada vez mais. O avanço prematuro de Paulo Portas para mais uma liderança está-se a revelar desastroso, os quadros de valor debandaram e jamais se conseguirá reunir as condições favoráveis de 1995.
Sou um homem de direita, este panorama não me agrada mas prevejo que o CDS/PP não irá sobreviver às eleições de 2009. As cores azuis e amarelas serão varridas do mapa político português. Lamento, porque acredito que os partidos políticos são a necessariamente locais de debate, de planeamento e a única forma democrática de atingir o poder. Actualmente, considero-me orfão político e não me consigo rever em nenhuma cor partidária, numa época em que o país necessita, mais do que nunca, de políticos de fibra para evitar o declínio total de Portugal ainda embriagado por uma falsa noção de grandeza que a UE nos injectou.

9 comentários:

Mad disse...

Porquê a bandeira monárquica, então?...

(Tenho uma de seda natural em casa. Qualquer dia dou-ta!)

Professorinha disse...

Olá Capitão!
Que bom ver mais um comentário seu em nosso blog e viu também a situação de uma escola pública!
Infelizmente essa é a nossa realidade educacional. É muito triste você trabalhar anos em uma instituição que era modelo na cidade de Natal e de repente está neste estado deplorável!
Você, como iniciativa privada não gostaria de unir forças conosco? Estamos precisando de parcerias! Venha nos visitar!
Ah, obrigada pela visita ao blog.
Bom final de semana.
Beijos,

Capitão-Mor disse...

Mad: Ficarias surpreendida com o número de monárquicos que o Largo do Caldas alberga. Embora eu desconfie, que muitos deles são daqueles que optam pelo ideal por motivos estéticos.

Zé Povinho disse...

Também este está instalado, e bem, e é maçador, muito! A fronteira entre a esquerda e a direita está tão esbatida na política, que já vi o PS ultrapassar pela direita o PSD, e ouvi discursos marcadamente de esquerda da boca de responsáveis do CDS.
As ideologias resumem-se aos interesses instalados e o bem público só existe no discurso quando estão na oposição.
Há quem fale em política de sarjeta...
Abraço do Zé

O Réprobo disse...

Meu Caro Capitão-Mor,
Felizmente que nunca me deixei seduzir por partidices, ou poderia ter sucumbido ao apelo que citou, desses meus dois ex-colegas universitários. O mal está nos partidos, não em um só deles. Essas camarilhas não O merecem.
Volto a dizer, só a Monarquia orgânica e descentralizada, com todas as atribuições das pastas técnico-sociais entregues ao nível municipal, com eleição de pessoas e não de listas sob emblemas de organizações, pode ser alternativa.
Abraço

ana v. disse...

Nah, os partidos políticos também não me convencem. Nenhum deles, até porque se parecem cada vez mais uns com os outros.
Lamento dizê-lo, mas os políticos portugueses (salvo raríssimas excepções) não têm precisado que alguém os derrube ou descredibilize. Eles próprios se têm encarregado disso.
Um beijo

TONY, Duque do Mucifal disse...

o problema reside na forma como fiacmos fora do sistema...ou seja, se nao nso revemos nos Partidos politicos como nos vamos manifestar?
a democracia ainda nao criou um polo aglutinador de eleitores afastados dos partidos politicos mas que querem ter uma vida activa em termos sociologicos e ideologicos.

Rubi disse...

Apesar do nosso passado académico, Capitão, também desconfio que o CDS tem os dias contados. O que eu corria, no início dos anos 90, para ouvir o Paulo Portas. O que corro agora para fugir dele...lol...

AnadoCastelo disse...

Não sou nem nunca fui do CDS, por isso estou à vontade para falar. Aliás, nunca fui de nenhum, apesar da simpatia por um dos que existem. Quando o CDS apareceu sempre julguei que pudesse fazer frente ou mesmo fazer par com o PSD, na altura os nomes sonantes eram o Diogo Freitas do Amaral, João Morais Leitão, Adelino Amaro da Costa, Vitor Sá Machado, Xavier Pintado e João Porto, todos fundadadores do partido. Mas o partido mudou e entra Manuel Monteiro, aqui assustei-me um bocadinho porque não fui À bola com ele. A seguir Paulo Portas, menos mal, mas o que pensei na altura concretizou-se depois, ele não servia para um partido que já vinha um pouco fragilizado detrás e faltava-lhe dedos para tocar o partido para a frente. E agora é o que se vê, um partido que poderia ser um dos grandes e está como está.
Bjs